As pequenas coragens. Meu ano foi cheio delas. Mini pulos de bravura que me levaram a coisas muito legais. Em outubro, por exemplo, coloquei na mala uma crise de labirintite + o medo de falar em inglês em público e fui apresentar a pesquisa num simpósio internacional. Lá, gostaram do que eu compartilhei e semanas depois me indicaram para mediar uma mesa na Flip. Em Paraty, me preparei demais, engoli o nervosismo e apareci para fazer perguntas para a autora irlandesa Sinéad Gleeson e a tradutora Maria Rita Viana. Quando acabou, me vi tão feliz. Tão satisfeita por não ter cedido ao primeiro impulso que sempre passa pela minha cabeça: dizer não a algo bacana por causa do pavor de não estar à altura da tarefa. Faz um tempo que tenho tentado outra rota — seguir ainda que com medo. Foi assim que me levei para ver o show do Paul McCartney num estádio imenso, numa São Paulo imensa. Foi assim que topei ministrar sozinha um curso de cinco aulas agora em fevereiro. É assim que tenho chamado e aceitado convites para encontrar pessoas que admiro para tomar um café. É assim que tenho me posicionado mais como pessoa que já aprendeu bastante coisa e que pode, sim, falar de determinados assuntos com propriedade. É assim, pessoal: um tanto em pânico, mas firme em fazer aquilo que me deixa contente.
Como já virou tradição por aqui, hoje compartilho as referências que engrossaram o caldo dentro de mim — com direito a vídeo novo liberado para todos \o/
Neste ano intenso de leituras teóricas fragmentadas para a dissertação do mestrado, cheguei a pensar que tinha perdido a habilidade de ler um livro do começo ao fim, mas esses títulos aí de cima me mostraram que continuava tudo bem, que era só uma questão de encontrar narrativas envolventes.
Deslumbramento, de Richard Powers e traduzido por Santiago Nazarian, foi de longe a história que mais me emocionou. Trata da relação de um pai com o filho atípico. Os dois, na procura por um tratamento, esbarram numa nova modalidade de neurofeedback que treina o cérebro a partir do cérebro de outras pessoas — o da mãe do garoto, por exemplo, que morreu faz alguns anos, mas é presença forte e compasso moral dos protagonistas. É de chorar, gente. Pela delicadeza da escrita e também pelo retrato tão certeiro que faz do nosso tempo — uma época de destruição ambiental que parece não chocar como deveria.
O que é meu, de José Henrique Bortoluci, costura as transformações de um país gigantesco com as andanças de um caminhoneiro, o Seu Didi, pai do autor. É um ensaio pessoal que nos faz pensar muito sobre as nossas próprias origens — tanto que escrevi uma edição mais longa da newsletter inspirada pelas páginas desse livro. Constelações, de Sineád Gleeson e traduzido por Maria Rita Viana, também bateu forte. Pensei no tratamento indiferente que recebi de ginecologistas que desmereciam a dor paralisante que eu sentia a cada menstruação. Pensei na luta pela descriminalização do aborto, pela autonomia dos nossos corpos. Pensei no tanto que não aguento mais ouvir a escrita de mulheres mães ser colocada num lugar menor, num lugar de interesse unicamente feminino.
Ursula K. Le Guin, traduzida por Heci Regina Candiani, está de novo na lista e acho que será assim por um bom tempo. A saga que começa com O feiticeiro de Terramar discute magia, mas acima de tudo trabalha o poder da palavra — nomear corretamente as coisas e os sentimentos tem mais força do que qualquer poção. É também um livro sobre amor. Tudo que Ursula escreve é sobre amor. É o caso também de Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã, de Gabrielle Zevin e traduzido por Carol Christo. Um romance de formação, de amizade, de jogos de videogame. Li no começo de 2023 e até hoje penso em alguns trechos.
Dos muitos livros de poesia que li ao longo do ano, o melhor disparado foi Ninguém quis ver, de Bruna Mitrano. O poema nome próprio, nossa… LEIAM! E estendo esse pedido de urgência ao MARAVILHOSO ensaio Viver e traduzir, de Laura Wittner, trazido para o português pelas mãos de Maria Cecilia Brandi e Paloma Vidal. Sério, terminei esses dias e minha vontade é dormir abraçada com ele. Deixou minha cabeça borbulhando de ideias.
Ando muito bem acompanhada de queridos escritores de newsletters. Aqui, as cinco edições que mais me marcaram:
Eu acordo comigo — ensaio de
sobre autonomia, rituais e rotinaAmbos —
e a possibilidade de estar certo e errado ao mesmo tempoTadinha — a escrita da
é das que mais me inspiram no exercício de vulnerabilidade e no trabalho de construção de textos que encontram o universal sendo radicalmente pessoais <3Antes da palavra — a delicadeza de
ao narrar as coisas não ditas- colocando o dedo na ferida de nosso desânimo com as redes sociais
O MELHOR: a conversa entre Julia Louis-Dreyfus com Isabel Allende — anotei tanta coisa enquanto ouvia, sobre escrita, envelhecimento e a relação com minha mãe <3
Da Rádio Novelo ouvi vários, mas o que mais gostei foi Os onzes, que fala bastante da dinâmica de redações de jornalismo em dias de caos
O podcast Livros no Centro me conquistou de vez com o episódio sobre mediação em mesas da Flip
e a temporada toda de Collor vs Collor — BOM DEMAIS!
Neste último semestre, mergulhei em séries esportivas — vai entender o motivo, eu sou uma das pessoas mais sedentárias do rolê. Se você for assim também, confia e se joga nesses títulos aqui:
2023 foi o ano em que mais me arrisquei a gravar vídeos. Aproveitei o mestrado para falar bastante dos desafios e celebrações dessa nova função como pesquisadora. Os vídeos chegam primeiro para os apoiadores da newsletter e depois de um mês, mais ou menos, eu libero para todos. O mais recente é este aqui:
Outro que fez sucesso foi sobre o processo de escrita da newsletter:
É isso! Em 2024 tem mais, muito mais — numa versão corre-para-terminar-a-dissertação-do-mestrado \o/
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
vc está sempre na minha lista de melhores do ano, embora a lista esteja apenas na minha cabeça e coração <3
Eu amo as referências da newsletter.❤️