EXTRA #36 - Queria ser grande só para apoiadores
uma espiada no inventário de inspirações | edição especial da Flip ;)
esta edição é uma prévia da coluna que apelidei de inventário de inspirações e que chega uma vez por mês para os assinantes pagos da newsletter. aproveitei o gancho da Flip para enviar uma boa parte do texto aberto a todos <3
Estou de volta a São Paulo, depois de quatro dias intensos na Flip.
Brinco que a experiência se parece com jogos universitários: você acorda cedo, coloca uma roupa que dê conta de todos os climas possíveis, faz xixi em lugares inóspitos, bebe uma cerveja sempre que der, come quando consegue um tempo e uma vaga em algum restaurante. Tem cara de perrengue, né? E é um pouco mesmo, mas é TÃO LEGAL. Isso de ver de pertinho autores que se admira, de conhecer coisas que nem sabia que existiam, de encontrar um monte de gente que gosta de literatura tanto quanto você. A Flip é feita de muito movimento. De um entra e sai de debates, de uma colcha de retalhos de inspirações. Me senti abastecida — preenchida com páginas de anotações num caderno e frases soltas digitadas euforicamente no celular.
Vou aproveitar que é semana de inventário para compilar aqui momentos e coisas que não quero esquecer:
Na minha mochila, trouxe cinco livros novos:
O que amar quer dizer, de Mathieu Lindon (na tradução de Marília Garcia)
Viver e traduzir, de Laura Wittner (na tradução de Maria Cecilia Brandi e Paloma Vidal)
Tradução da estrada, de Laura Wittner (na tradução de Estela Rosa e Luciana Di Leone)
Algumas notas do dia a dia, de Christina Sharpe (na tradução de Jess Oliveira)
Nenhuma língua é neutra, de Dionne Brand (na tradução de Lubi Prates e Jade Medeiros)
Dionne Brand, mencionada na lista acima, foi para mim um dos grandes destaques da Flip. Na mesa da programação principal, que você pode assistir na íntegra aqui, ela conversou com a poeta Angélica Freitas, com mediação de Jamille Pinheiro Dias. E na Casa Sete Selos, o papo foi dividido com a também incrível Christina Sharpe. Entre tantas coisas, elas falaram de como a linguagem é parte fundamental na luta pela construção de um mundo mais justo e do exercício necessário de nomear as violências com as palavras exatas para que elas sejam vistas e combatidas. Falaram também de processos de escrita, de como o texto se faz no texto, em meio à costura de palavras e que nesse caminho até os erros podem ser fonte de criação.
Na sexta-feira, o destaque ficou para a mesa que reuniu José Henrique Bortoluci e Nora Krug, com mediação de Gabriela Mayer. Ele escreveu um dos livros que mais gostei de ler este ano, O que é meu. E ela é autora de Heimat, um dos meus romances gráficos favoritos. Nora é alemã e falou bastante de como o país lida com os horrores da Segunda Guerra Mundial. Uma história marcada por uma vergonha coletiva que ela precisou escavar para descobrir as ações da própria família durante o holocausto. Ela falou bastante do processo de pesquisa, das entrevistas com parentes distantes e de como foi digerir tudo isso. Nora também participou da última mesa da Flip, quando alguns autores leem trechos de textos preferidos — e a leitura que ela escolheu foi a que mais me marcou: o ensaio The fourth state of matter, de Jo Ann Beard, sobre um tiroteio na Universidade de Iowa, em 1991.
No sábado, acompanhei com muita alegria a roda de conversa conduzida pelo grupo Quem traduziu — uma iniciativa que quer acabar com a invisibilidade do trabalho de tradução aqui no Brasil. Elas compartilharam cláusulas abusivas em contratos e valores assustadoramente baixos. Foi legal demais ver a Casa Paratodos lotada de gente interessada nesse fazer que exige tanta pesquisa e criatividade <3
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