*Print do post da Aline Valek
Comecei 2022 sem saber se daria conta do tanto de coisa que me propus a fazer. O primeiro ano do mestrado, a cobertura das eleições, a versão paga desta newsletter. Incursões pela escrita de ficção, uma oficina sobre Sally Rooney. A Flip. O Joaquim. Meu marido, os amigos. A casa. A vida.
Ainda que com episódios de extremo cansaço, fui feliz. Aprendi que eu gosto de movimento — descoberta inesperada para uma pessoa ansiosa e controladora. Passei grande parte da vida adulta dizendo que PRECISAVA de uma rotina sem alterações. Vi que isso não é verdade. Nem um pouco. Eu curto mesmo um desafio, ainda que projetado, calculado. Morro de medo? SIM, mas me faz um bem danado perceber que enfrentei inseguranças para começar atividades que desejei desde sempre.
Estes doze meses foram disso: colocar as vontades para caminhar. Dar muito de mim, mas também me abastecer de gente, de textos, de músicas, de rua. Hoje, compartilho as referências que engordaram o caldo aqui dentro.
Li Quando deixamos de entender o mundo e O acontecimento em sequência, durante as férias em abril. E nada me preparou para o impacto que teriam. Daquelas leituras que não acabam quando terminam, sabe? Citei trechos em aulas, reli certas partes, fui em busca de outros títulos a partir deles. Revivi as sensações na Flip, quando pude ver e ouvir de pertinho Annie Ernaux e Benjamín Labatut.
Esses dois primeiros livros embaralham os gêneros e falam muito dos limites entre ficção e realidade. Anos de formação também é assim. Propõe uma nova forma de compilar memórias, com um narrador em terceira pessoa, um alterego do autor. Começa como um diário, mas vai além: traz esboços de contos e reflexões bem bacanas sobre literatura.
Aos prantos no mercado é mais um sobre memória. Tem formato tradicional, mas com frescor — o ponto alto para mim é o modo como entrelaça luto, imigração e comida. Terminei o livro emocionada pra caramba.
E para terminar, Ursula Le Guin <3 Paixão escancarada. Até agora gostei de tudo que ela escreveu, de romances a ensaios. Um deles inspirou aquela reflexão sobre mães que escrevem, lembram? Bom, em Os despossuídos fiquei encantada com a junção de discussões políticas, amor, liberdade, proteção ao meio ambiente, críticas à exclusão no mundo acadêmico. Com uma costura tão refinada, sem nada de panfletário.
Até o ano passado, a maioria dos links que eu compartilhava vinha de redes sociais, mas em 2022 o jogo virou: um pessoal bacanérrimo começou ou reativou as newsletters e agora tenho uma infinidade de textos e modelos para me inspirar. Separei, então, cinco edições que me marcaram:
Desculpe, não gosto muito de bacalhau — o poema da Stephanie Fernandes sobre o avô me emocionou demais
Tamara Klink e o medo, a coragem e a teimosia das nossas travessias — Priscila Pacheco faz um trabalho lindo escrevendo a partir da voz de outras mulheres
O silêncio é uma das muitas edições que gostei da newsletter da
Andanças #17: Paterson — venho pesquisando sobre espaço na literatura e, por isso, devoro as reflexões da
que são disparadas por filmes e os lugares ocupados pelos protagonistasRevisão como ferramenta de autoconhecimento — texto que bateu fundo porque fala de mestrado e insegurança
Sobre o fascismo — adorei como o Mica tratou de um tema tão espinhoso de maneira tão clara e com exemplos certeiros da ficção
Meu inconsciente coletivo: as fases do divórcio em Cenas de um casamento — se você é meu amigo, grandes chances de ter me ouvido falar sem parar desse podcast ¯\_(ツ)_/¯
Ser sonoro — a temporada inteira é maravilhosa, mas vou deixar a sugestão do episódio Acordos.
Bobagens imperdíveis: movida a curiosidade — das coisas mais criativas e gostosas que ouvi no ano <3
Em português:
Literatura inglesa Brasil — a Marcela é professora da UERJ e é responsável pelos cursos mais legais sobre a obra de Jane Austen.
Ora Thiago — análises nada superficiais de cultura pop e comportamento.
Paola Carosella — a rainha do meu estômago, junto com a musa Rita Lobo.
Em inglês:
Rebecca eats books — ela não atualiza sempre, mas gosto demais da simplicidade dos vídeos, carregados de boas dicas de leitura.
Jared Henderson — voz mansa e comentários muito sensatos sobre literatura e escrita.
Fran Meneses — já indiquei um monte de vídeos dela e vou citar mais uma vez porque, sim, são os vídeos mais coração quentinho que você vai encontrar por aí.
São Paulo = melhor lugar para comer. O meu rolê preferido de final de semana é andar a pé, parar em livrarias de rua e experimentar comidinhas.
Cora — fica na Vila Buarque, grudado no Minhocão, no mesmo predinho da livraria Gato sem rabo. A pegada do restaurante são os pratos para dividir. Os meus preferidos: brócolis tostados na brasa, mozzarella fresca com lentilhas e romã e o coração do pato. Ah, não deixe de provar os drinks também.
Cuia — dentro da livraria Megafauna, no Copan. Lá, eu gosto da moqueca, do orecchiette com alho-poró e do baião de dois.
Mintchi — os melhores croissants que eu já comi, sério. Todos são gostosos, mas o de pistache e o de doce de leite com queijo… perfeitos! E o rolê casadinho que eu recomendo é visitar o sebo Desculpe a poeira, que fica ali perto.
Mugui — talvez tenha sido o delivery que mais pedi. É um japonês tradicional, lá na Liberdade, com foco nas comidas quentes. Amo o oniguiri de missô e o katsu curry. E deixo aqui o agradecimento ao amigo Lê Otsuka por ter me apresentado esse tesouro <3
É isso! Obrigada a todos pelo carinho neste ano tão vida louca <3 2023 tem mais, muito mais.
Ai, comecei a ler toda animada conferir as dicas e terminei honradíssima por ter sido lembrada! Muito obrigada, Barbara! Sua newsletter é incrível. Sempre coloco uma estrelinha na caixa de entrada para curtir o texto com calma quando a correria do dia a dia não me deixa ler logo que ela chega, rs. Foi muito bacana acompanhar seu trabalho ao longo desse ano e também adorei as dicas de lugares para comer em SP. Na próxima visita não vou perder de jeito nenhum. <3
Restaurante Cuia é um grande abraço em forma de gastronomia; Paola Carosella é minha diva cozinheira; Meu Inconsciente Coletivo tem episódios muito bons (gostei em especial do que fala de White Lotus).
E já anotei aqui as outras recomendações que passou pra eu também testar :)