Ilustração de Madalina Andronic
Aqui, minha voz é protagonista. Mas em várias partes da vida, minha criatividade e o meu texto estão a serviço do outro. De outras vozes. No jornalismo de TV, por exemplo, o trabalho é em grupo, mas o produto final é planejado para caber na boca de uma repórter ou de uma apresentadora. Edito e escrevo com essas pessoas em mente e uso termos que acredito casar bem com elas. No mestrado em literatura, digito palavras novas, reflexões particulares que cabem na minha boca, mas sempre a partir de uma história que já existe, concebida por uma autora que nem sabe que eu existo. Destaco elementos da narrativa que ela desenvolveu pelo puro prazer de pensar sobre livros. E foi esse mesmo desejo que norteou a preparação para mediar uma mesa na Flip. A minha primeira mesa. E logo de cara com uma escritora irlandesa e uma tradutora brasileira que admiro — Sineád Gleeson e Maria Rita Viana. Mergulhei nos ensaios do livro Constelações em busca de partes que fizessem o público querer devorar as páginas assim como eu fiz. Para que entendessem também o valor do trabalho da tradução — um fazer delicado, inventivo e extenuante, que, infelizmente, ainda não tem o reconhecimento que merece. Senti que o verbo necessário para guiar minha conversa com elas era ILUMINAR. Trazer luz para o feito delas. E não para mim. O movimento de ser a estrela do próprio rolê é bacana, mas há também um sentimento muito gostoso e gratificante em celebrar o ofício de alguém. Em se colocar como escada. Em emprestar a voz para ecoar mais forte a voz do outro.
Lembrei de um trecho do poema de Ana Martins Marques:
[…]
toma as palavras emprestadas
e empresta-lhes também
sua energia
sua coragem ou doçuraLíngua, em Risque esta palavra
A Lara Lagos gravou a mesa com a Sineád Gleeson e a Maria Rita Viana \o/
No começo da semana, mandei o inventário de inspirações disparadas pela Flip. Boa parte do texto — incluindo a lista de livros que trouxe de Paraty — está aberta a todos os assinantes ;)
Como se pune uma mulher que ousa lutar?
Corpos, quilos, estruturas, sacrifícios
Espero que você não escreva sobre mim
Um belo começo — fazendo um romance aparecer
Parem de esperar que as pessoas trabalhem de graça
Dica de documentário: A bilionária, o mordomo e o namorado
Adora listas com os melhores livros do ano?! Aqui tem uma compilação com as mais bacanas até o momento \o/ E já estou preparando a tradicional retrospectiva desta newsletter #VEMAÍ
Que bela ideia para fazer com os amigos neste final de ano <3
Neste ritmo de balanço, estou preparando um vídeo com perguntas e respostas. Quem quiser participar, basta mandar uma sugestão aqui nos comentários ;) Alguns temas possíveis: mestrado, jornalismo, maternidade, livros, newsletter…
E o último vídeo que gravei, contando de como preparo apresentações sobre a pesquisa do mestrado, já está liberado lá no Youtube. No finalzinho, tem uma reencenação do que falei de Pessoas Normais no Simpósio de Ouro Preto
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Obrigado pela sua partilha. As minhas palavras estão ao serviço dous outros de varias formas.
-Quando escrevo as minhas histórias ficcionadas, as minhas palavras estão ao serviço da imaginação dos outros.
-Quando divulgo conhecimento científico, as minhas palavras estão ao serviço da Literacia em Saúde e do bem-estar.
-Quando uso as palavras nas sessões de Psicoterapia, as minhas palavras estão ao serviço da saúde e qualidade de vida.
Acredito que as palavras devem ser partilhadas, porque são formas de fazer evoluir cada um de nós, e por consequência a humanidade
O seu texto me transportou para um tempo não tão longe assim da minha vida. Enquanto profissional de comunicação numa divisão (assessoria) de comunicação num órgão público federal (era no ICMBio, órgão ambiental). Como um bom comorgueiro (formado em comunicação organizacional) nossos primeiros empregos sempre fazemos de tudo um pouco.
Eventualmente, nas férias da nossa jornalista, precisei me aventurar nos textos para o nosso site. Fiz uma pauta de Top5 Unidades de Conservação que Você Deveria Conhecer (não era exatamente uma lista mas foi meio que uma série de uc's desconhecidas do público geral).
Nessa série eu dei voz ao órgão, usei nossos tons para milhares de brasileiros. Não era o Xus falando mas sim os pesquisadores, chefes de unidade, a biodiversidade brasileira. Até então eu só tinha feito trabalhos de texto só para mim por mim. Foi uma experiência incrível e ao ler o seu texto agora, não digo que é o mesmo sentimento, mas acredito que consegui me conectar.
E sentir um quentinho no coração. De vez em quando gosto de lembrar desse período no ICMBio. Antes da desgraça acontecer (governo Bolsonaro), era um lugar incrível com infinitas histórias para contar.