Ilustração de Amber Vittoria
Nas últimas semanas me senti tão estranha. Imersa numa melancolia, sem energia para tocar a rotina. Primeiro, coloquei a angústia na conta de um momento turbulento no trabalho. Depois, pensei que era a combinação da onda de demissões com uma menstruação transbordante. Os dias passaram, o sangue cessou, mas o humor continuou esquisito. Daí veio uma crise de sinusite, daquelas que você se sente um catarro ambulante. Vai ver era isso, concluí. O aviso de uma doença que me espreitava na esquina. Me recolhi, tomei os remédios. Em meio a uma putidão. Essa não sou eu. Já passei por tempos piores e segui com meu ritmo, operando em alto patamar apesar do que estivesse em curso. Uma qualidade, né? Firme ainda que no caos. Consistente ainda que exausta. O que, então, estava diferente? Não conseguia definir… até que abri meu calendário. São meses e meses de compromissos sobrepostos, de uma ginástica para me fazer presente na redação, no mestrado, na newsletter, em casa, na vida de amigos. Sem brechas para o nada. Para pequenos repousos. O importante era atravessar, continuar. Até quando? Não sei. Talvez até a data chamada colapso. Parei antes porque o corpo se rebelou e me fez ver que defendo o descanso e a resistência diante da cobrança por performance — mas só para os outros. Para mim reservo uma exigência insustentável e me cego para os sinais óbvios de esgotamento.
Retorno, assim, ao exercício de observação, de desligar a água antes de ferver. De entender que abraçar volumes homéricos de obrigações e projetos não é bem uma habilidade. É também um sintoma. Do desejo de controle, dos picos de ansiedade, da lógica de mercado e da exploração de todos os espaços de ser.
Por onde andam os vazios? Preciso urgentemente saber
Escrever me consome
Lascar a pedra por prazer — essa carta da
sobre criatividade conversou TANTO comigo:Resistir às exigências produtivas e imperativas do contemporâneo, ser teimosa e dizer um NÃO sonoro quando eles dizem que eu deveria isso ou aquilo. Na contramão, escolho gastar meu tempo com alguma bobagem, alguma coisa inútil, algum absurdo. Talvez essa seja minha definição preferida de criatividade.
Por uma experiência despretensiosa
Cubos médios — que delícia de texto da
A Antofágica vem liberando o acesso às videoaulas que acompanham os livros e agora foi a vez de Orgulho e Preconceito \o/ Quem conta sobre a vida de Jane Austen e analisa o romance é a prof. Sandra Vasconcelos, de quem sou grande admiradora
Os bastidores da última temporada de Mrs. Maisel
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Boys lixo na literatura
Sobre bondade e ilusão
Criança grande ainda é criança
Adolescentes querem ser ouvidos com empatia — um vídeo importante para os tempos sombrios que estamos vivendo
Quem apoia financeiramente a newsletter, recebeu nas últimas semanas um vídeo com a minha rotina de estudos e escrita e também uma listinha de livros que tratam da construção de textos, ficcionais ou não.
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Como esse texto resume bem a nossa angústia coletiva. Obrigada por ele.
É curioso como nós, jornalistas, vivemos de apontar a água fervendo por aí, mas não notamos (ou, pior, glamourizamos) quando é a gente que está nessa água. E falo tanto como indivíduo quanto como classe profissional. Faz bem em prestar atenção nisso :)