Ilustração de Xuan Loc Xuan
A maioria pensa que existe sobre a terra para encontrar o amor, ficar rico, exercer algum poder, gerar picos de crescimento ou deixar sua marca nas areias do tempo. São raras as pessoas que sabem que existem para contemplar o céu. Se você não está nesse grupo, é uma sorte conhecer alguém que esteja. Isso amplia o horizonte. Eu tenho essa sorte: conheço Hervé, homem pacato, lacônico, absorto, que vive como se pudesse morrer a qualquer momento e tem sempre medo de acumular demais. […] Quando está viajando, ele arranca e joga fora as páginas dos livros assim que as lê, para ficar mais leve. Jornalista na Agence France Presse, morou na Espanha, na Holanda, no Paquistão, tendo o cuidado de não fazer carreira e continuar, como ele diz, abaixo do alcance do radar.
— Ioga, de Emmanuel Carrère
”Tendo o cuidado de não fazer carreira”. Essa frase está me acompanhando há semanas. É de uma rebeldia deliciosa e me toca tanto porque dia sim, dia não penso no eterno caminho para cima que é preciso percorrer no trabalho. Ainda que se goste do posto que ocupa, ainda que se tenha desafios por enfrentar, a pressão é para que você suba. Suba suba suba e chegue invariavelmente numa vaga burocrática. Com mais dinheiro, é claro, mas bem longe daquilo que primeiro te motivou a tentar tal carreira. Dá para lutar contra isso? Dá, só que não é bem visto. Rende rótulos de pouca ambição, de resistência a mudanças. E quem é que pode dizer não a um aumento hoje em dia, não é mesmo? Sei lá, eu sou arisca a esse movimento, ao aperfeiçoamento interminável. Tenho pavor de que grande parte da minha vida se resuma a subir uma escada cujo topo não me interessa — apenas o meio.
Transgressões diante da velocidade insana da vida contemporânea —
escreveu lindamente sobre resistirO oceano do não-saber — não deixe de ler os comentários ao final do texto, sério
O que é a convivência?
Para uma mulher, só a obra-prima permite que o crime cometido em solidão – o de escrever – seja perdoado
Onde nascem os gênios?
Uma oficina de escrita sobre gestos de amor <3
Como formar um público leitor para newsletter
Estou lendo:
- Um retrato do artista quando jovem, de James Joyce — que livro!
- Escrever é muito perigoso, de Olga Tokarczuk
Para quem não conseguiu ver, aqui está a live de início da leitura conjunta de Belo mundo, onde você está, romance mais recente de Sally Rooney
Esta semana, enviei para os apoiadores da newsletter um áudio contando como por muito tempo achei que controlar a ansiedade resultaria em perder uma parte importante da minha personalidade. Você pode ver um pedacinho do e-mail aqui ;)
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Essa frase me pegou aguda por aqui. Eu sempre acho que fugi um pouco dessa obrigação de fazer carreira. Fiquei pulando nos lugares e quando “subia subia subia” logo saía atrás de novos desafios, porque “subir” me levava sempre para lugares mais burocráticos do que criativos e me deixava infeliz. Por isso, passei a inventar meu mundo e tentar fazer as coisas que quero e acredito, mas não fazer carreira tem me custado um pouco caro e me feito questionar se eu não deveria ter investido mais nela. Não tenho uma resposta, estou justamente em busca dela e aí me cai essa frase no colo me emocionando logo cedo aqui (não sei ainda se de um bom jeito! Hahahaha)
" subir uma escada cujo topo não me interessa " - fiquei pensando quando a gente descobre se interessa ou não? só quando a gente chega? quando o caminho entre cada degrau exige mais do que a gente tem? o quão complexo pode ser escolher o que não se sabe - em várias esferas da vida rs.
fiquei aqui com muitas perguntas depois de te ler, obrigada :)