Quarta-feira foi aniversário de Virginia Woolf. Postei uma foto bonitona com a pilha de livros que tenho dela. É das minhas autoras favoritas, sem dúvida. Gosto dos ensaios, dos romances, dos diários. Do projeto literário de Virginia. Porque é, sim, um projeto — e bem desenhado. Ela tinha o desejo de atingir certos efeitos e testava, experimentava até chegar perto deles. É inspirador e atordoante ler o que ela tem a dizer dos processos, das técnicas. Atordoante porque é genial. Me deixa empolgada e ao mesmo tempo paralisada. Com vontade de sugar tudo, de engolir Virginia.
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Quando falo dela, me enviam duas perguntas:
- É muito difícil de ler?
- Por onde começar?
Alguns romances de Woolf passeiam por muitas vozes, pulam do mundo interno de um personagem para o outro sem aviso. Isso pode confundir no começo, mas, na minha opinião, basta insistir um pouco para se adaptar. Agora, sobre por onde começar… não há consenso. Tem quem goste de ler primeiro os ensaios e depois partir para a ficção. Outros, fazem o caminho oposto.
O meu foi este aqui: li primeiro a coletânea Mulheres e ficção, depois Um quarto só seu e desemboquei em Mrs. Dalloway — daí é caminho sem volta: cheguei em Ao farol totalmente entregue e o próximo será As ondas.
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Aproveito para resgatar um texto sobre leituras desafiadoras \o/
(publicado em fevereiro de 2022)
Livros difíceis. Por que ler? Enfrentei a pergunta algumas vezes, vinda de pessoas que me viam carregar por aí Ulysses e O som e a fúria. E a resposta é muito simples: curiosidade. Gosto de saber o que de tão diferente vou encontrar num texto de Joyce, de Virginia W, de Faulkner. O desafio está na técnica usada? Oi, fluxo de consciência! Fica na conta do enredo (ou na falta dele)? Sinto urgência em desvendar os mistérios, de formar uma opinião própria sobre o que falam dessas obras. E gostar ou não gostar do que encontro passa a ser um mero detalhe. Eu quero é experimentar, me jogar no projeto do autor, notar as artimanhas do texto.
Caetano Galindo, tradutor de Ulysses, falou sobre isso na semana em que o livro completou 100 anos:
Nós devemos agradecer quando a gente encontra uma obra que a gente não entende imediatamente. É banal entender as coisas, você entende tudo que te contam. Você entende todas as narrativas. Você entende tudo o que acontece a sua volta. Agora a gente está te dando um privilégio: algo que você não compreende. Algo que você vai ter que trabalhar para entender. Algo que vai te oferecer interesse, como um exercício intelectual. Não necessariamente no sentido cerebral, frio, acadêmico, mas no sentido de empenho sentimental, empático, psicológico, neurológico de todo tipo.
A dificuldade pode ser um tempero interessante, sabe? E não entender absolutamente tudo que está escrito não é necessariamente um problema. Literatura também é sensação.
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Respondi três perguntas
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Ah, e amo amo amo o texto “músicos de rua”. Acho ele profético.
Rolou uma mostra aqui em Berlim chamada “Queerness in Photography”. Um das expos dentro da mostra era “Orlando”, toda baseada na curadoria que a Tilda Swinton fez pra revista Apperture dedicada a Orlando (por conta dela ter interpretado Orlando no filme). Lindíssima demais, inclusive consegui comprar a revista e acabei lendo Orlando de novo, que eu amo um tanto, mas ainda não mergulhei na obra da Woolf como eu gostaria. Trouxe agora do Brasil os diários que eu tinha comprado há anos e não li. Obrigada por esse texto.