Ilustração de Madame Lolina
Projetos de longo prazo. Como manter a disciplina quando não existem cobranças constantes?
Faz dois meses que finalizei os créditos necessários para o mestrado. Motivo para comemorar, é claro — concentrei tudo no primeiro semestre e agora tenho uma boa margem para escrever a dissertação. No meu tempo, dependendo da minha organização. E é aí que mora a angústia. Percebi que funciono melhor com aulas semanais, textos obrigatórios, entregas de artigos ao final do período. Resumindo: estou órfã de um cronograma bem estabelecido.
Prometi que iria manter o ritmo, mas logo ocupei os dias de aula com outras coisas. Quase nenhuma relacionada aos estudos. Jurei que seria apenas por um mês — com a desculpa honesta de que tenho as eleições para cobrir. Mas me conheço: ou voltava para o eixo ou me consumia em ansiedade. Então, há umas duas semanas, reservei às quartas-feiras para “me dar aulas” — reler os romances de Sally Rooney e correr atrás de lacunas teóricas de uma jornalista que agora pesquisa literatura. Está funcionando. Caminhos possíveis de análise retornaram à minha mente. Talvez seja mais adequado dizer que eles me assombram. Ficam sempre no fundo da minha cabeça e me impelem a alimentar freneticamente o diário de pesquisa. Vamos ver quanto tempo dura — criar esquemas é fácil, difícil é seguir neles.
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Quando falo sobre o diário de pesquisa, recebo muitas mensagens perguntando como funciona. E olha, é bem simples. Tão simples que fico até constrangida de explicar em detalhes: é um arquivão no Google Docs. Coloco a data e saio anotando, sejam trechos do romance ou de textos teóricos, rascunhos de ideias, perguntas que não sei responder. Gosto desse formato porque concentra tudo num lugar só, numa plataforma que posso abrir em qualquer momento. Além disso, consigo pesquisar por termos específicos dentro do arquivo.
Deixo aqui o exemplo de uma das entradas mais recentes — sei que tem muita gente aqui com dilemas de estudo também. E aproveito para pedir um favor: tem dicas de organização acadêmica e de como manter o gás nesse processo que pode ser beeem solitário? Conta pra mim?!
Também contei um pouco dos meus estudos sobre o espaço e o tempo na literatura - que, como você deve ter notado no print acima, é um dos caminhos para a minha dissertação. Publiquei o texto na newsletter extra para apoiadores, aberta para todos nesta semana <3
E se você gosta de Sally Rooney, aqui tem texto acadêmico (como se fosse um e-mail para o meu professor) sobre Belo mundo, onde você está
A Vanessa Guedes escreveu esta semana sobre o texto e o tempo <3 E ela está organizando um evento sobre newsletters com um pessoal bem bacana
Gostando muito da newsletter da Luisa Manke sobre lugares e andanças <3 A edição de hoje também está lindona
Uma maratona de escrita de contos
Livro novo da Patti Smith no dia 15 de novembro \o/
O que sobrou de nós depois desses anos malucos
A ansiedade nossa de cada dia
O sentido do trabalho e o lugar que essa dimensão ocupa na vida
Ando viciada nos vídeos dessa chef particular
Mais forte do que eu, nós
Livro que quero muito começar — trabalho minucioso de reportagem da Juliana Dal Piva
E torçam por mim no domingo, também conhecido por nós jornalistas como a rave da democracia
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
gatammmm, muito obrigada pela indicação na sua news maravilhosa! eu adoro conhecer processos de escrita acadêmica das pessoas, adorei sua ideia de fazer um diário, isso não tinha me ocorrido na época dos meus estudos. uma sugestão que funcionou pra mim no doutorado, que tem um tempo solitário meio extenso também, foi dividir as coisas por pequenos projetos. porque se eu tivesse apenas a grande tese final na frente, acho que teria me bloqueado.
então eu criava uma programação tipo mensal que buscava trabalhar um grande tema que seria um provável capítulo ou item da tese. e nessa organização, para eu não ficar muito tempo em uma coisa só, incluía tempos para pesquisar e ler apenas as fontes; leituras de livros e artigos; escrita, em uma fase mais livre de ensaio para desbloquear as ideias (se eu mirasse o texto definitivo, também bloquearia). quando ia chegando perto da qualificação, eu focava mais na escrita e na revisão (nunca desconsidere o tempo de editar as notas de rodapé ou de revisão, porque olha... na tese final, foi uma semana só organizando as notas ahahaha).
com isso, eu conseguia trabalhar simultaneamente em algumas frentes e, na hora de enfrentar a tese, tive uma tranquilidade maior por já ter várias coisas meio prontas. sempre vai ter tensão e correria, mas eu procurava ao máximo criar um espaço de calma e produção constante, porque me apavora demais fazer coisas com pressa. =)
recomendação de organização: o blog/canal/livros da thais godinho, do vida organizada!