Ilustração: Loré Pemberton Ando pesquisando sobre mães que escrevem. Vontade que surgiu depois de ler sobre o processo de alguns escritores e não conseguir me ver naquelas rotinas. Não tenho longos períodos de concentração, nem ambiente reservado e sem barulho. Não tenho espaço para longas caminhadas ou horas de observação num café qualquer. Não, a minha escrita normalmente acontece em meio ao preparo do almoço, nos intervalos entre as brincadeiras com meu filho, nos minutos de espera até chegarem os textos que edito no trabalho. É um processo fragmentado, confuso. Vivo angariando frases soltas que escrevi no whatsapp, no avesso de um papel qualquer, num recado de áudio que deixei para mim mesma. Normalmente, funciona. Consigo juntar os elementos num relato coerente. Mas tem vezes que não. Dias em que as ideias surgem, mas não encontram o tempo mínimo de maturação. São dias de frustração. De pensar que escrita é essa que me proponho a fazer. De questionar o que seria de meus textos se houvesse mais tempo. Se eu não fosse mãe. Se os períodos fora do trabalho fossem todos meus. Fantasio sobre isso com frequência. Mas uma boa parte de mim já sabe que esse desejo não tem pé. Sabe que a maternidade alimenta minha criatividade de formas que até então eu não tinha experimentado. É um tal de reviver a infância, de repensar a relação com a minha mãe, de estabelecer nãos inegociáveis, de escolher músicas e filmes que quero compartilhar. Tudo isso enriquece minha escrita. Então, por que o sentimento de inadequação persiste? Como se, por não fazer do
me sinto na mesma situação. sem tempo de maturação, aquela ideia de ficar vagando pra assentar o texto dentro e fora da gente. também sou a mãe que escreve em pequenos fragmentos do dia. o que tenho aproveitado é: quando coloco-os pra dormir, faço pausas silenciosas e consigo viajar nos pensamentos, formar frases, aliás, muitos dos meus textos saem dessa meditação ensurdecedora de pensamentos que faço na hora deles dormirem.
Por aqui é igual. Enquanto ele não chega, enquanto ele dorme. Lembro sempre de Alice Munro contando que cuidava de 4 ou 5 filhos e da casa sozinha e escrevia o mais rapido possivel nos raros intervalos e enquantos…
Lembrei de uma escritora colombiana chamada Pilar Quintana. Ela escreveu "A cachorra", que tá publicado em português pela Intrínseca, enquanto amamentava. Tem umas entrevistas dela sobre o assunto.
Recentemente li o Casa de Alvenaria, e a Carolina Maria de Jesus fala bastante no diário sobre o tempo da escrita e o cuidado com a casa, com os filhos, com os eventos literários depois da publicação de Quarto de despejo. O livro é muito bom!
Babi, chegou a ver algo sobre Clarice Lispector? Lembro de ter ouvido que ela escrevia do meio da sala com a máquina de escrever no colo, para não ficar isolada dos filhos escrevendo sozinha.
Me identifiquei muito com esse texto! Por aqui rola a mesma coisa. As vezes penso no quanto é frisado que para se manter escrevendo é preciso ter uma rotina diária de escrita. Se assim fosse, nunca mais teria escrito nada. Seguimos escrevendo nas brechas, nos enquanto, ocupando esse espaço que também é nosso <3
Não tenho nem palavras pro tanto que eu amei e me vi nesta edição. Lembrei aqui dessas referências: https://austinkleon.com/2020/05/10/5-great-books-about-art-and-motherhood/
E obrigada pela indicação! ❤️
me sinto na mesma situação. sem tempo de maturação, aquela ideia de ficar vagando pra assentar o texto dentro e fora da gente. também sou a mãe que escreve em pequenos fragmentos do dia. o que tenho aproveitado é: quando coloco-os pra dormir, faço pausas silenciosas e consigo viajar nos pensamentos, formar frases, aliás, muitos dos meus textos saem dessa meditação ensurdecedora de pensamentos que faço na hora deles dormirem.
Por aqui é igual. Enquanto ele não chega, enquanto ele dorme. Lembro sempre de Alice Munro contando que cuidava de 4 ou 5 filhos e da casa sozinha e escrevia o mais rapido possivel nos raros intervalos e enquantos…
mães que escrevem enquanto. exatamente nesse lugar. tempo, tempo, tempo!
Lembrei de uma escritora colombiana chamada Pilar Quintana. Ela escreveu "A cachorra", que tá publicado em português pela Intrínseca, enquanto amamentava. Tem umas entrevistas dela sobre o assunto.
Recentemente li o Casa de Alvenaria, e a Carolina Maria de Jesus fala bastante no diário sobre o tempo da escrita e o cuidado com a casa, com os filhos, com os eventos literários depois da publicação de Quarto de despejo. O livro é muito bom!
Babi, chegou a ver algo sobre Clarice Lispector? Lembro de ter ouvido que ela escrevia do meio da sala com a máquina de escrever no colo, para não ficar isolada dos filhos escrevendo sozinha.
Me identifiquei muito com esse texto! Por aqui rola a mesma coisa. As vezes penso no quanto é frisado que para se manter escrevendo é preciso ter uma rotina diária de escrita. Se assim fosse, nunca mais teria escrito nada. Seguimos escrevendo nas brechas, nos enquanto, ocupando esse espaço que também é nosso <3