Ilustração: Loré Pemberton
Ando pesquisando sobre mães que escrevem. Vontade que surgiu depois de ler sobre o processo de alguns escritores e não conseguir me ver naquelas rotinas. Não tenho longos períodos de concentração, nem ambiente reservado e sem barulho. Não tenho espaço para longas caminhadas ou horas de observação num café qualquer. Não, a minha escrita normalmente acontece em meio ao preparo do almoço, nos intervalos entre as brincadeiras com meu filho, nos minutos de espera até chegarem os textos que edito no trabalho. É um processo fragmentado, confuso. Vivo angariando frases soltas que escrevi no whatsapp, no avesso de um papel qualquer, num recado de áudio que deixei para mim mesma. Normalmente, funciona. Consigo juntar os elementos num relato coerente. Mas tem vezes que não. Dias em que as ideias surgem, mas não encontram o tempo mínimo de maturação. São dias de frustração. De pensar que escrita é essa que me proponho a fazer. De questionar o que seria de meus textos se houvesse mais tempo. Se eu não fosse mãe. Se os períodos fora do trabalho fossem todos meus. Fantasio sobre isso com frequência. Mas uma boa parte de mim já sabe que esse desejo não tem pé. Sabe que a maternidade alimenta minha criatividade de formas que até então eu não tinha experimentado. É um tal de reviver a infância, de repensar a relação com a minha mãe, de estabelecer nãos inegociáveis, de escolher músicas e filmes que quero compartilhar. Tudo isso enriquece minha escrita. Então, por que o sentimento de inadequação persiste? Como se, por não fazer do modo correto, eu não pudesse classificar o que faço para além de um hobby. A hipótese mais forte no momento é a falta de modelos para me inspirar. Uma necessidade de ler mais sobre mães e seus esquemas. Estou imersa nisso e já encontrei muita coisa bacana, que pretendo compartilhar em breve. Por enquanto, deixo vocês com uma resposta da Giovana Madalosso:
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quem dera eu pudesse ter um horário escolhido por mim. Tenho uma filha de sete anos, então meu horário de trabalho é o do enquanto. Enquanto ela está na escola, enquanto ela vê tevê, enquanto ela dorme. Nesse contexto não há muito tempo para rituais, mas claro que algumas drogas psicoativas (de mãe) ajudam: chocolate, café, Coca-Cola.
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Gente, o que é a Isabel Teixeira, atriz que faz a Maria Bruaca em Pantanal?! MARAVILHOSA
Lendo no momento: Os despossuídos, de Ursula K. Le Guin - muito muito muito bom
E vendo: Sandman <3
E deixo aqui o lembrete de que a newsletter também tem uma edição extra para assinantes \o/ Com diário de leitura e livros essenciais indicados por pessoas bacanérrimas. Aqui tem uma amostra do que rola ;)
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Não tenho nem palavras pro tanto que eu amei e me vi nesta edição. Lembrei aqui dessas referências: https://austinkleon.com/2020/05/10/5-great-books-about-art-and-motherhood/
E obrigada pela indicação! ❤️
me sinto na mesma situação. sem tempo de maturação, aquela ideia de ficar vagando pra assentar o texto dentro e fora da gente. também sou a mãe que escreve em pequenos fragmentos do dia. o que tenho aproveitado é: quando coloco-os pra dormir, faço pausas silenciosas e consigo viajar nos pensamentos, formar frases, aliás, muitos dos meus textos saem dessa meditação ensurdecedora de pensamentos que faço na hora deles dormirem.