Sabe quando a professora separava os alunos em grupo e pedia para que escrevessem um texto juntos? PESADELO. Eu odiava com todas as minhas forças ter que bolar parágrafos a muitas mãos. O produto final tinha gosto de remendo e pouca (ou nenhuma) personalidade. Era um texto burocrático, para constar. E eu queria mais. Queria me ver ali. Eu adorava pensar em jeitos diferentes para começar as redações. Procurava por impacto. Por uma frase que servisse de ímã, uma força que prendesse o olhar até chegar à última palavra do papel. Foi esse desejo que me fez marcar a opção Jornalismo no vestibular. O desejo da escrita, não o desejo da notícia. É o que acontece com a maioria dos que entram nessa faculdade. E é por isso que tão poucos a terminam com vontade de exercer a profissão. Porque escrever como jornalista é quase nunca escrever sozinho. É quase nunca escrever só o que se quer. Na televisão, por exemplo, isso é praticamente impossível. Dá até para pensar em uma primeira versão — mas ela será retrabalhada, cortada, ampliada, invertida. As palavras precisarão combinar com as imagens e, principalmente, com trechos de entrevistas já gravadas. O texto negociado entre repórter e editor vai no meio da fala de outras pessoas. É costurado junto a elas. E às vezes serve apenas de trampolim para essas vozes. É importante que seja assim, relatar o mundo é uma atividade que começa no particular, mas que tem a missão de chegar no coletivo. Um jogo difícil, que exige treino frequente. Um exercício que prepara para muita coisa — inclusive para a pesquisa acadêmica. Escrever uma dissertação de mestrado é uma eterna brincadeira entre a análise autoral e a análise dos outros. Tem quem odeie, mas eu gosto. E gosto TANTO que minha versão adolescente pensaria que me tornei outra pessoa. Minha justificativa para ela envolveria o termo RECONHECIMENTO. Nada surge do vácuo. Tudo que escrevo e penso teve início em outra coisa, em outra pessoa. Nem sempre é possível identificar diante do nó dos pensamentos, mas quando se nota… citar e conversar com esse outro em meio ao texto se torna um gesto de saudação, de reverência. Um aceno à construção coletiva do saber. E meu percurso na pesquisa é prova disso. Com a dissertação completa, consigo ver os rastros de uma legião de pessoas queridas. Das escritoras e teóricas que trabalho diretamente, das minhas orientadoras e suas sugestões brilhantes, das amigas e amigos que leram e palpitaram. Tem sinais também das leituras que fiz apenas por prazer e de muitas e muitas mulheres que conheci em clubes de livros, leituras conjuntas e cursos livres, gente que nem sabe o quanto contribuiu para meu amadurecimento literário. Eu agradeço imensamente a todas essas vozes que se misturaram à minha.
Comunicação é ruído
As cartas que nos trouxeram até aqui
Escrevendo para além do hype
Os fantasmas camaradas da escrita
Coisas que não sei
Um ensaio bagunçado sobre querer demais
Uma reflexão sobre imperialismo, redes sociais e a ansiedade de ver tudo
Anatomia de uma cena com Walter Salles
Devia ter tirado mais chapas — MARAVILHOSO!
Só penso neste show aqui <3
E também em Twin Peaks — comecei a ver (por meios não ortodoxos) e me apaixonei
Estou lendo:
Babel, de R.F. Kuang e tradução de Marina Vargas (BOM DEMAIS, RECOMENDO)
A parede, de Marlen Haushofer e tradução de Sofia Mariutti (COMECEI ONTEM E TÔ ACHANDO HIPER INTERESSANTE)
Tempos interessantes, de Naoise Dolan e tradução de Bruna Beber (UMA RELEITURA - SOU FÃ!)
Semana passada, enviei para os apoiadores um inventário da reta final da dissertação — falei especialmente de epígrafes e compartilhei a que escolhi para abrir as mais de cem páginas que escrevi (SPOILER: é de James Joyce)
No dia 28 de março, vou participar junto com a Paula Jacob e as meninas da
de uma edição offline do podcast de um dos podcasts mais bacanas de todos \o/Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Eu amei “A parede” também!!!
O desejo de escrever!!! Acima do de noticiar, publicar ou obter algum resultado. Minha analista me ensinou essa diferença, que faz toda diferença (hehe) no processo de criar.
Também fiquei lembrando em como odiava fazer textos em conjunto, ficava parecendo um Frankenstein cheio de retalhos desconexos. O que acabava acontecendo era que eu tomava pra mim a tarefa de escrever sozinha, pagando o preço da sobrecarga para ganhar a satisfação da experiência 😅