Ilustração de August Lamm
Quem diria que ficar horas no carro, sentada toda torta, com pés por cima do porta-luvas, esperando a estrada terminar para chegar em casa; daí mal entrar pela porta e seguir para o cinema, passar duas horas e meia numa poltrona terrível, voltar e logo fazer da pior cadeira da casa um trono para escrever; e no dia seguinte, pegar o filho já grande no colo, pular com ele bem feliz, quem diria, né, acabaria com a minha lombar travando. Você aí do lado diria e me ouviria bem raivosa dizendo que não aguento mais passar os últimos dias de férias dopada de relaxante muscular e rodando na cama sem posição. Será só uma resposta do corpo aos movimentos ingratos que o fiz enfrentar? Ou será que chuto o pau da barraca e coloco a culpa na esbórnia de eventos, festas, viagens, apresentações que dominaram setembro e outubro, assim sem descanso, com um máximo de cinco horas de sono por dia, com herpes brotando na minha boca, sinusite bombando na testa e no ouvido. Quem diria, né? Quem diria que a vida vem cobrar uma pausa assim de repente, assim sem negociação. De um jeito que irrita cada pedaço de mim que adora ser independente, que odeia pedir ajuda, que se acha muito tranquilo, que acha que não está tão corrido assim, imagina, tudo certo. Iludida. Mas me dê uma colher de chá. Foram coisas tão legais, cerejinhas de um bolo que venho assando há anos. Na pesquisa, aqui neste espaço, lá no jornalismo. Mas ainda que felizes são coisas — e coisas cansam. Consomem um gás que é finito, mesmo que eu finja o contrário. E quando ele acaba, resta me recolher num casulo, ou numa concha, como um caranguejo-eremita.
De molho, consegui terminar as temporadas já lançadas de Slow Horses (Apple TV+) e, nossa, que série boa, gente. Boa mesmo! Se eu já era fã de Gary Oldman, agora virei tiete. De tão obcecada, fui atrás de entrevistas com ele e achei a listinha de filmes que mais gosta. Um deles é A conversação, do Coppola — aluguei online e assino embaixo: ótimo!
Agora, leituras. Devorei De onde eles vêm, novo romance do Jeferson Tenório. Para quem se interessar, fiz apontamentos na newsletter exclusiva dos apoiadores. Também terminei Temporada de furacões, de Fernanda Melchor (excelente!) e estou nas últimas páginas de Argonautas, de Maggie Nelson (uau)
Três episódios de podcast que adorei ouvir:
Penso muito nos médicos russos
No tabuleiro — uma resenha de Intermezzo, de Sally Rooney
Será que tudo que é para o seu bem te faz bem? — uma reflexão sobre a cultura do wellness
Nove resmungos sobre términos
Ninguém aguenta mais dicas
Minha nova inspiração para roupas <3
Babando nestes pratos e cumbucas
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
amiga, quando meu filho era pequeno eu tive uma coisa chamada bico de papagaio, que teve a ver com as mudanças ósseas da gestação + carregar esse peso chamado maternidade. às vezes parece que a gente pari e o corpo se acerta, mas não: são anos de mudanças intensas. enfim: se cuide, e melhoras!
Desejando melhoras!! E também AMO Gary Oldman. Anotei sua sugestão na listinha!