De um lado do caderno, os pontos principais da fala do professor. Do outro, um box com todos os livros e autores interessantes que ele menciona. Um inventário de desejos de leitura. Um inventário de tudo que não conheço, do tanto que ainda não sei. A lista do dia: Ali Smith, Alice Munro, Grace Paley.
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Quando falo do mestrado em Letras, recebo de volta o comentário de que agora devo ler mais do que nunca. Sim e não. Leio bastante, grandes volumes, mas aos pedaços. Capítulos avulsos, artigos, trechos específicos do romance que pesquiso. Ou seja, percorro uma ampla superfície de informações, com alguns mergulhos profundos — mas a sensação dominante é de um conhecimento fragmentado. E isso perturba a minha tendência à completude. De querer saber do comecinho ao fim. Mas já tinham me avisado. O mestrado é assim mesmo, três anos passam rápido. É preciso fazer uma pesquisa inteligente. Selecionar o que realmente interessa e permanecer no caminho. É duro, mas funciona. E me adaptei tanto ao esquema que agora duvido se ainda tenho a capacidade de me concentrar em uma coisa por vez. De ler um longo romance num ritmo constante.
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Não por acaso, os livros (por prazer) que consegui terminar este ano têm uma narrativa fragmentada. Os detetives selvagens, de Roberto Bolaño. Maravilhoso, entrecortado, episódico. E Lia, de Caetano Galindo. Cada capítulo traz um ponto da história da moça do título — sem ordem cronológica, sem que saibamos quem conta o quê. Os dois romances têm personagens que fogem dos leitores. Que rejeitam uma definição única, certeira.
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E repulsa à categorização é o grande tema da disciplina do começo do texto, que tenho acompanhado às quintas-feiras. Até o nome do curso busca se despir dos rótulos: não fala de contos/microcontos/epígrafes/notas, fala de Formas breves na ficção contemporânea. E o que é breve para mim pode ser minúsculo ou imenso para você. A graça está aí. E também em entender a potência que um formato condensado pode ter. Esta semana, cortei um nome da lista de desejos e li "Um conto real", de Ali Smith (traduzido por quem? Caetano Galindo). Fui fisgada de um jeito que fazia tempo não acontecia. 10 páginas que renderam quase quatro horas de debate em sala. 10 páginas que me fizeram preencher à mão 6 páginas do meu caderno.
Como perdoar quem não gosta de contos?
Ler ficção <3
Querer e não querer ser Susan Sontag
Como se fosse a primeira vez — um lembrete para todo dia
Um livro que estou de olho: Arte e Medo: observações sobre os desafios (e recompensas) de fazer arte
Eu sinto falta do silêncio
Reflexões sobre o direito ao aborto
Comprei ovinhos de páscoa deliciosos dessa confeitaria aqui
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
eu amo ler contos porque eles não parecem inteiros, deixam sempre um espaço para a imaginação. eles sempre continuam ao infinito na minha cabeça.
babi, me tocou muito sua reflexão sobre conhecimento fragmentado. penso muito sobre isso, mas acaba indo para um traço tóxico de cobrança, que estou tentando parar. venho tentando pensar nesses fragmentos como oportunidades de conhecer assuntos e autores, e ter a liberdade de escolher no que me aprofundar no momento. (e eu sinto que não vou sossegar até ler o bolaños😝)