Ilustração de Hiller Goodspeed
Tapadora de silêncios. Esse deveria ser meu cargo na vida. Se estou no rolê, pode apostar: todo e qualquer intervalo constrangedor será interrompido por mim. Parece uma missão. Vejo as bocas se fechando, os olhos se virando para o tampo da mesa... e pronto, me dá uma coceira e saio falando. Qualquer coisa. Qualquer coisa MESMO. Do furúnculo que brotou na minha perna ou de como numa noite, sem meus óculos, tateei até o banheiro e sentei no tampo da privada ensopado de xixi do Joca. É, não conheço limites para a auto-humilhação, ainda mais quando está a serviço do divertimento dos outros. Funciona bem para caramba, tem até quem conte comigo para isso, mas depois vem o efeito colateral — a ressaca da exposição. Sabe aquele arrependimento pós-eventinho? Será que falei demais? Precisava ter compartilhado tanta bobagem, tanta coisa íntima? Vez ou outra, antes de sair de casa, fecho um trato comigo mesma: hoje vou me conter, hoje vou ouvir mais, hoje vou deixar que alguém que não eu puxe a conversa. Tenho sucesso por um tempo. Curto. Uma hora talvez. Daí pra frente o combinado é esquecido e me vejo de novo nesse lugar, nesse posto de falante compulsiva. E isso vem me irritando. Bastante.
Então, eis o meu grande plano para 2024: falar só quando tiver algo a dizer. E eu tenho muito. Serei sempre tagarela, sei disso. Só não quero usar uma enxurrada de palavras para esconder desconfortos. Todo mundo que se vire um pouco ou abrace o silêncio em paz.
Os últimos dias têm sido de mergulho em Estrela distante, de Roberto Bolaño. Fazia tempo que queria ler algo dele, desse chileno com fãs tão fervorosos. Tinha tentado começar por 2666, mas parei na metade por causa de outras leituras. Agora, não. Segui as dicas de Antônio Xerxenesky, peguei esse romance certeiro para recomeçar minha incursão na obra do autor e, olha, estou no finalzinho e profundamente envolvida.
A outra obsessão dos últimos dias foi aquela propaganda com Jeremy Allen White. E para quem gosta de The Bear, indico DEMAIS este vídeo que traz uma análise da edição de imagens da série, com direito a entrevista com os responsáveis. A editora que mora em mim ficou bem feliz com o destaque dado ao trabalho deles <3
Decorando os nomes do BBB24 — ri alto!
Tudo aquilo que não assistimos em 2023
A casa que mora em nós
Envelhecer sempre foi um horizonte almejado
Em 2023, a morte me perseguiu por todos os cantos — faz anos que sou fã da escrita da
Na semana passada, os apoiadores da newsletter receberam um vídeo no qual compartilho um tantinho de como serão os primeiros meses do ano ;) Você pode virar um assinante com 7 reais por mês ou 70 no ano
Estão abertas as inscrições para o curso Pessoas Normais, de Sally Rooney: tempo de formação, tempos de crise \o/ Serão cinco aulas para a gente discutir o contexto histórico e literário da Irlanda e como Rooney se encaixa nisso ;)
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Também sofro de incontinência verbal - e com a perspectiva de silêncios constrangedores. Estou aprendendo a ficar mais quieta e a fazer mais perguntas do que contar histórias. E sabe o que? Está sendo um exercício de calma e presença. Bem mais interessante do que eu imaginava!
Nossa, Babi, isso aqui foi tema da minha terapia esses dias.