Fico pensando quando é que começou, isso de as séries e filmes mais badalados pingarem drama até o último fio do cabelo, com personagens terríveis, cenas chocantes, beirando o perturbador. As coisas começam bem e aí degringolam do segundo minuto em diante. Algumas histórias até trazem um final de redenção, mas a maioria termina ali, na desgraça mesmo. Ah, real né? A vida é uma merda mesmo. Ninguém consegue o que quer.
Esse modo de fazer entretenimento anda tão forte que assisto a tudo quanto é coisa contaminada pelo medo de que uma cena espantosa esteja sempre se aproximando. A trilha sonora fica mais tensa? Pronto, lá vem merda, é bom eu me preparar para o impacto.
Quando comecei a ver The Bear, ouvi comentários de que um dos episódios tinha um desfecho surpreendente. E, diante da tendência do momento, tomei como dica de que algo ruim aconteceria. A apreensão me acompanhou em todas a cenas, porque, né, o que mais poderia surgir na vida desse chef de cozinha que inicia a série tendo que lidar com o suicídio do irmão? Já não era sofrimento suficiente? Era. Para o meu alívio, os criadores resistiram à tentação de criar mais merdas, mais rasteiras, e resolveram explorar caminhos de saída, de recuperação. E foi exatamente essa abordagem menos apocalíptica que me fez ficar obcecada pela série.
The Bear usa o ambiente sufocante de uma cozinha profissional para tratar de luto e da relação entre irmãos, amigos de infância e novas pessoas que chegam e modificam um ecossistema delicado. E essa premissa, de botar um monte de gente para conviver num espaço apertado, quente, com facas afiadas, já é entretenimento suficiente. A vida, sem cambalhotas mirabolantes, já é suficiente. E gera arte de qualidade, que pode competir de igual para igual com os dramalhões pesados que me destroem — e que, ainda assim, eu amo, fazer o quê.
Isso, dos conflitos da rotina serem o elemento fundamental, também aparece em Os Sopranos. É uma série de máfia? É. Tem violência pra caramba e mil traições? Tem. Mas não são essas saídas dramáticas que me fazem virar a madrugada revendo os episódios. Eu quero é saber como vai ficar a situação de Tony com a terapeuta, por quanto tempo a esposa vai aguentar a rotina de indiferença que vive no casamento, se o padre é um pilantra que paquera as mulheres só para filar a comida na casa delas.
Sei lá, tem sido um descanso assistir coisas que não me fazem pular do sofá, cobrir o rosto ou entrar num dilema de por-que-estou-viciada-nessa-série-se-todos-os-personagens-são-escrotos-o-tempo-inteiro-?
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Faz um tempo, a Anna Vitória escreveu sobre como foi entrar no mestrado e também do final do processo. Eu só li esta semana e me fez um bem danado. Se reconhecer nas noias dos outros sempre ajuda ;) Aqui tem a parte um e a parte dois.
Os apoiadores da newsletter receberam na semana passada uma edição especial com vídeo listando as leituras que pretendo fazer pós-entrega do relatório de qualificação. E teve também receita do meu *famoso* brownie <3
Meu aniversário é na segunda e quero muito provar este cheesecake
Também vou tentar fazer esta receita aqui
A pedido do meu marido, sempre monto uma listinha com os livros que estou de olho e gostaria de ganhar de presente ;)
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Estou assistindo Ted Lasso justamente nessa de sair das coisas absurdas e ao mesmo tempo reais demais. A vida já exige tanto, encontrar isso nas telas estava me pesando. Bom saber dessa! Vou salvar aqui. 😘
Tem uma série que eu assisto que é exatamente mantida a base de desgraça - tanto que quando tem um episódio de boa, você já fica desconfiada. Isso não só é cansativo pra que vê como fica velho muito rápido. Ainda bem que tem muita gente indo no caminho oposto, como The Bear, uma série sobre pessoas difíceis em momentos desafiadores, mas sem a sensação de catástrofe iminente. Que alívio.