Ilustração de Katy Smail
Algumas das melhores amizades que tenho são intermitentes. Com picos de proximidade e de afastamento. Há nessas relações um entendimento mútuo de que é impossível uma presença constante diante das mil demandas da rotina. E ainda que com longas demoras entre mensagens e encontros, o carinho está ali. O interesse está ali.
Mas por ser compreensiva demais com esse modelo de amizade da vida adulta atarefada, andei ignorando sinais de que algumas relações já não podiam mais receber tal etiqueta. De intermitentes passaram a ser inexistentes. De um tipo que não consigo lembrar qual foi a última notícia que tive ou que compartilhei. Não sei onde paramos na vida uma da outra. Ainda é amizade quando a gente não sabe mais nada sobre a pessoa?
Penso como seria um reencontro. Teria que desenhar uma linha do tempo enorme, que não caberia na lousa de nenhuma sala de aula. E talvez, nesse revisionismo de episódios marcantes, eu chegaria ao ponto de não retorno. Ih, se nem disso você soube, é melhor parar por aqui. É que nesse pontinho que eu tracei tinha um buraco negro — eu entrei ali e nunca mais fui a mesma.
Só não gosto desse paradoxo: os dias passam e não percebo a ausência, não faz falta alguma, mas quando, de repente, lembro da proximidade de antes, fico bastante chateada. E emito sinais de abandono. Culpo as mensagens não respondidas, o invejável perfil discreto nas redes sociais. Justifico com os anos da pandemia, com os interesses que seguiram caminhos quase opostos. É tudo isso, mas talvez seja mais simples. Não terei a resposta. O momento de resgate passou faz tempo e qualquer satisfação soaria fora de propósito.
Amizades morrem no descuido dos dias.
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tem acertado em cheio uma edição atrás da outraLista de cafés em São Paulo
Em setembro, vai ter leitura coletiva dos Contos Completos, de Virginia Woolf, com a prof. Marcela Santos. Já estou a postos \o/
Na próxima semana, enviarei para os apoiadores um vídeo com o registro dos últimos dias — com direito a apresentações da pesquisa e uma estante de livros nova aqui em casa <3
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Quando a gente muda de país, esse tema fica ainda mais sensível. As relações mudam, umas mais que as outras. Tem as que achávamos ser pra sempre, mas que vão nos escapando pelos dedos. É difícil cultivar, porque aí tem lá e cá. O que me salva são os grupos de amigos no whatsapp e as redes sociais... a gente vai se fazendo presente numa curtida mas, como você disse, alguns são tímidos. Há tempos quero escrever sobre isso, porque dói... mas com o tempo, a gente vai se acostumando e a dor vai diminuindo.
Seus textos sempre batem forte por aqui...E esses dias, estava pensando justamente em algumas amizades que sinto que estão se perdendo, as vezes penso que sou eu a negligente, mas tudo na vida é uma via de mão dupla né? Não basta que só parta de mim as tentativas de manter viva algumas relações. Então tenho aceitado, ainda que com muita tristeza, a partida de algumas amizades.