Na última semana, prolonguei minhas já extensas madrugadas por causa de um livro: Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã. Fui envolvida pela história de um jeito que não acontecia faz tempo — o que me levou a ter noites de sono de menos de cinco horas, altamente não recomendado para quem tem filhos pequenos.
Mas o que tem de tão bacana? É um romance de formação entrelaçado por uma atividade específica: a criação de jogos de computador. Mistura que não estava no meu radar, mas que funciona bem demais. Vai por mim. A construção de mundos digitais serve de amparo para discutir amizade, relações abusivas, xenofobia, machismo, saúde mental, maternidade, luto. Ufa! Ainda que pareça muita coisa num livro só, juro que a autora conduz de forma orgânica. Tão orgânica que a gente se vê ali. A gente = nascidos nos anos 80. Mas para além dos temas e das muitas referências pop, o ponto alto do livro é o trio de protagonistas: Sam, Sadie e Marx. O amor entre eles é palpável, mas cheio de desvios, de falhas. E é assim porque estão descobrindo como lidar com o outro enquanto tentam desvendar que papéis devem ocupar — ou representar — na vida adulta.
Me vi grifando tanta coisa. De diálogos certeiros a citações de Shakespeare. De frases curtas a páginas inteiras. Sei lá, gostei de tudo mesmo. Gabrielle Zevin tem uma escrita gostosa, despretensiosa, mas muito bem amarrada.
Abaixo, compartilho um trecho — talvez com algum spoiler — que esbarra numa reflexão que me ronda desde que virei mãe. E que serve para ilustrar o tom do romance:
Sadie não era do tipo maternal, embora isso não fosse uma confissão que as mulheres eram autorizadas a fazer. Ela ansiava demais por solidão e espaço pessoal. Mas amava aquela garota mesmo assim. Ela estava se esforçando para não romantizar a personalidade da filha. Não queria atribuir características a ela que não eram verdadeiramente dela. Um bom designer de jogos sabe que se agarrar a algumas ideias iniciais sobre um projeto pode diminuir o potencial dele. Sadie não achava que Naomi fosse inteiramente uma pessoa ainda, o que era outra coisa que não se podia admitir. Muitas das mães que ela conhecia diziam que seus filhos eram exatamente eles mesmos desde o momento em que vieram ao mundo. Mas Sadie discordava. Que pessoa era uma pessoa sem linguagem? Gostos? Preferências? Experiências? E, do outro lado da infância, que adulto queria acreditar que tinha emergido de seus pais totalmente formado? Sadie sabia que ela mesma não havia se tornado uma pessoa até bem pouco tempo. Não era razoável esperar que uma criança nascesse inteira. Naomi era um esboço a lápis de uma pessoa que, em algum momento, seria um personagem totalmente em 3D.
Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã, de Gabrielle Zevin
A editora americana de Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã tornou real o jogo produzido pela protagonista Sadie Green: Emily Blaster, que tem como ponto de partida poemas de Emily Dickinson. Sério <3
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resgatou a prática e eu adorei participar \o/No começo da semana, contei para os apoiadores da newsletter como tenho catalogado minha biblioteca e emprestado mais livros para os amigos. A assinatura custa 7 reais por mês ou 70 no ano ;)
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Nossa, cliquei em quase tudo! hahahaha... eu comprei o "amanhã, amanhã, amanhã" porque achei a capa bonita. Comecei a ler, mas ainda não entrei no flow dele. Agora fiquei com vontade de me dedicar com mais afinco nessas primeiras páginas. E amei me ver por aqui <3
Como amo estar na seleção de links de uma das minhas news favoritas! 😍❤️ Obrigada!