Ilustração de Yelena Bryksenkova
Ter independência é uma nóia minha. Busco isso desesperadamente desde muito jovem. Detestava ser carregada pela família para lugares que não me interessavam, lutei demais pela liberdade de ir e vir, de ficar sozinha em casa o final de semana inteiro quando mal tinha dez anos. Transportei essas preocupações também para os primeiros namoros. Com um amigo que eu adorava não suportei ficar mais do que alguns dias. Ele me ligava o dia inteiro e gostava de andar praticamente grudado à minha cintura. As amigas achavam romântico, intenso. Eu achava um saco. Só consegui me envolver para valer quando encontrei alguém mais parecido comigo — parceiro, amoroso, mas com um desejo enorme de manter boa parte de si preservada, sem essa de fusão de almas. Foram quatro anos assim, dos quinze aos dezenove. Idade crítica para a formação da identidade. Base importante para o que eu desejava para mim. Ainda que com uns deslizes aqui e ali, segui dessa forma. Deixando claro meus limites, protegendo meu espaço. Defendo minha opinião, tentando não ser contaminada pelos quereres alheios. Casei, tive filho, mantive meu nome, contas separadas, a minha carreira. E quando aqui cheguei, comecei a questionar essa vontade de ser independente a todo custo. Até mesmo se é possível ser REALMENTE independente. Como o meu esquema mãe-que-trabalha-fora-e-faz-mestrado-e-escreve-newsletter daria certo sem o revezamento que faço em casa com o meu marido? Como o telejornal do qual faço parte há sete anos seria exibido diariamente sem o esforço coletivo que tanto gosto e celebro? Eu teria sobre o que escrever sem as conversas com amigos, as indicações de queridos desconhecidos? Não dá para existir neste mundo sem amparo, sem ser afetado pelo outro. Não dá.
***
Escrevi a partir de duas reflexões que chegaram até mim nos últimos dias. A primeira, foi esta conversa com a psicoterapeuta Tati Castilho, que resume a questão com a seguinte frase: “A pessoa desesperada por independência é muito dependente”.
Mas o que fundiu minha cabeça mesmo foi um trecho de uma entrevista com a Sally Rooney — ando monotemática, eu sei. Ela fala sobre feminismo e a busca pela independência:
Não acredito que alguém seja independente de ninguém porque, quanto mais penso em como nosso mundo está estruturado, todos dependemos do trabalho uns dos outros o tempo todo. Pela comida que comemos, pelas roupas que vestimos. Alguém tem que fazê-los. Alguém tem que cultivar a comida. E isso está acontecendo para que possamos ter a vida que temos. […] Então, acreditar em mim mesmo como indivíduo ou como pessoa independente, parece apenas uma ilusão. Eu não sou independente. Independente de quê? Quer dizer, minha vida só se sustenta pela minha posição dentro de todas essas redes a que eu pertenço, quer eu goste ou não. Essa é a vida humana, não é sustentável de outra forma. Todos nós dependemos uns dos outros.
As mulheres mais inteligentes que eu conheço estão todas dissociando
O que cabe num território
Lygia Fagundes Telles e uma história sobre a morte
Meu avô vai morrer — o registro de um luto em andamento
Como se autorizar a escrever?
Que delícia ler a Isa Sinay contando como foi o Primavera Sound
Quem apoia a newsletter financeiramente recebeu edição extra na semana passada com a biblioteca afetiva da Isa Sinay. E nossa, pura identificação com os romances que ela citou <3
Um texto sobre origens e Gal Costa como trilha sonora da vida
O ponto mais bonito da cidade
Um sebo que quero muito conhecer
Os melhores 60 romances ambientados em universidades
A Maíra Ferreira, que escreve uma das newsletter mais bacanas, me convidou para indicar três livros escritos por mulheres que me marcaram nos últimos tempos.
Também tem indicação minha no perfil da Dois Pontos <3 Ali, falo de livros com narrativas não convencionais — meus preferidos.
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Amiga, que edição maravilhosa. Amei seu texto, uma chacoalhada boa demais aqui ❤️
Amei seu texto! Eu tambem sempre tive essa ansia de independência desde cedo!