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Já fui do time que queria ser blogueira literária e lia 50 livros num ano sem qualquer critério. Logo abandonei essa ideia, por não sentir que eu expunha minhas impressões de uma forma interessante e tbm por achar que minhas leituras estavam sendo determinadas pelo hype editorial mais comercial, sem nada que estivesse me trazendo novas formas de pensar, sentir, questionar, encarar a vida e o mundo, puro entretenimento. O que ok também, mas dado que o tempo de vida é limitado, tentei ser um pouco mais seletiva. Houve uma época em que eu fazia listas de toda obra indicada por alguém que eu admirava, quase como uma crença de que ao ler os mesmos livros eu pudesse vir a ser um pouco aquela pessoa, o que até que demorei pra perceber que era impossível, já que cada um vem com uma bagagem e tira uma impressão própria da leitura. Passei a ler mais o que gostaria de verdade, colhendo indicações aqui e ali, mas testando se aquela obra minimamente me interessa. Hoje em dia vejo as recomendações quase como uma curiosidade, se algum dia eu me aproximar daquela obra, lembro de ter uma referência anterior vista em algum lugar, mas não mais como uma meta de tarefas a ser cumprida. E só se a resenha ou compartilhamento de impressões é realmente inspirador pra mim, me toca de uma forma que "eu quero muito ter acesso direto a isso", vou atrás :)

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Essa questão é uma constante aqui em casa. Os livros (que eu compro e recebo) circulam pela sala com muito mais velocidade do que consigo ler. As capinhas dos livros nos Stories do Instagram normalmente não são livros lidos - mas tb não trato como se fossem. Já os livros indicados na newsletter, sim, são lidos pra comentar. Acho q leio bem, tenho o hábito da leitura diária, a pilha de leituras futuras nunca pára de crescer e o momento de ler é um prazer genuíno (ver as estantes cheias também é) E, sim, uma coisa boa de postar é que sempre gera uma conversinha. Acho q as pessoas têm interesse real na leitura mas sofrem dessa falta de atenção geracional, gostariam de ler mais mas não "conseguem" por isso acabam interagindo c quem lê na expectativa de conseguir alguma dica pra ler tb. Enfim, me alonguei aqui, mas ótima edição a de hoje, obrigada :)

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Apr 27, 2022Liked by Bárbara Bom Angelo

Adorei o texto. Muito bom se final, reflete bastante o que também sinto:

“ O irônico é que, acima do capital social, a leitura é um bem do qual só nós podemos verdadeiramente dispor, o impacto é único, pessoal. Dispara vínculos difíceis de replicar.

O conteúdo sobre livros que me interessa é justamente aquele que traz a visão íntima de quem leu. Estabelece relações com vivências, com outros textos. Que busca um apaixonamento, que coloca a literatura no lugar de transformação, de janela para o mundo e para nós mesmos.”

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Ótima reflexão. Vivo presa num ciclo de angústia de querer ler mais vs aproveitar e digerir e refletir sobre cada leitura que faço. O tempo da leitura também não cabe no ritmo do algoritmo - e quanto mais posts sobre livros, maior fica a sensação de que eu “deveria” estar lendo mais. Isso que tenho uma rotina incrível de leituras. Seu texto e o da Ariela foram uma provocação importante aqui para mim!

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Nov 8, 2022Liked by Bárbara Bom Angelo

Oi, Babi, tudo bem? Acabei de assinar sua newsletter e cheguei a este texto pelo seu email de boas-vindas. Li seu texto primeiro e depois o texto indicado da Ariela e agora o seu faz mais sentido (ambos ótimos e que provocam reflexões). Acho que o hábito de ler bastante (bem acima da média nacional pelo menos, porque o que é ler bastante, né? Isso é extremamente pessoal) é saudável desde que faça sentido. Me parece que de uns tempos pra cá as pessoas que escrevem sobre livros nas redes começaram a se desculpar por ler muito. Haha E eu entendo super esse movimento.

Eu falo sobre livros nas redes há algum tempo e passei por esse processo de desacelerar, mas porque realmente ler já não era mais saudável pra mim. Cheguei a escrever sobre isso no meu findado blog Sobre Livros e Traduções, sobre quando ler começa a causar ansiedade. Foi bem triste notar que o que eu mais amo tinha se tornado mais uma luta comigo mesma. Uma pressão sem cabimento. E, sim, eu acho que as redes ajudam (sempre vai ter o livro do momento que você "precisa" ler, os inúmeros lançamentos, os clássicos ainda não lidos). Tudo vira competição e/ou comparação.

Desde esta autorreflexão, eu leio menos, o que já é bastante. Aí, eu reforço que ler bastante pode ser saudável sim, porque quando eu estou num fluxo bom de leituras, eu esqueço do meu celular e uso o meu tempo livre para ler. Dessa forma, me faz um bem danado. (Tem também a questão de quanto mais se lê, melhor é a curadoria das próprias leituras, mas eu já me prolonguei demais.) E eu adoro seguir pessoas que falam de livro, então as redes sociais também podem ser saudáveis e incentivar o hábito de ler, desde que a gente, do lado de cá da tela, tenha parcimônia.

Um beijo e feliz por ter chegado até sua newsletter,

Brenda

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May 3, 2022Liked by Bárbara Bom Angelo

Adorei sua linha de raciocínio e me lembra um pouco a rotima que resolvi adotar nas minhas leituras, de parar mesmo e não me cobrar ultrapassar minhas responsabilidades para manter a leitura constante, afinal precisa ser um processo prazeroso.

Cheguei aqui pela newsletter

https://cacadoradegalaxias.substack.com/p/06-o-que-eu-e-a-ashaley-tisdale-temos?r=1ebsz9&s=r&utm_campaign=post&utm_medium=email

Acho que a reflexão dela engajou bem com a sua e penso como de um tempo pra ca a mimha escolha de leituras nunca foi tão minha, pode parecer estranho mas, minha adolescência foi ler para agradar, ler pelo hype. Me deixa feliz pensar que as escolhas das minhas leituras me deixam tão livre quanto preciso.

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Apr 29, 2022Liked by Bárbara Bom Angelo

Gostei muito das reflexões. Um pouco antes de começar o OutraCozinha eu escrevia mais sobre livros, sem nenhum pretensão que não fosse escrever sobre algo que eu fazia muito (ler). E esse questionamento sobre o que falar sobre livros fazia parte do tipo de coisa que eu escrevia. Uma resenha (longa ou curtinha no instagram) nunca é o tipo de texto que eu procuro quando escolho um livro. Eu percebo que o que me faz interessar por algo, além dos meus próprios interesses que vão flutuando ao longo do tempo, é ouvir outra pessoa dizer como aquilo cruzou com os interesses e particularidades dela. Bem pessoal mesmo. E era tambem o que eu acaba escrevendo então. Nessa época, eu comecei a chamar esses textos que eu escrevia de "Experiências de leitura", por falta de um termo ou gênero que dissesse melhor o que eu tava fazendo. Continuo me norteando por isso quando escrevo sobre algum livro, mas é sempre bom pensar no assunto.

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Apr 27, 2022Liked by Bárbara Bom Angelo

Compartilho demais desse sentimento, e tenho perdido o gosto em ler ou assistir alguma coisa, porque sei que a obra não vai ficar comigo. Tenho a maior agonia de terminar de ver um filme ou série na netflix e não poder ficar encarando a tela no final, porque antes do fim dos créditos ja rolaram trailers de 3 outras opções do que ver a seguir. Isso me cansa, e eu tenho tentado fugir desse caos, mas não tem sido fácil

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Compartilho tanto dessa angústia! Leio uma grande quantidade de livros, mas sempre fico com a sensação de que poderia estar lendo mais quando abro o Instagram - ou, que deveria estar lendo um determinado livro que tá em alta. Ao mesmo tempo, gosto muito das pequenas conversas e reflexões que surgem dos posts despretensiosos sobre as leituras. Tento muito me desprender dessa cobrança pra que a leitura continue sendo um momento de prazer e transformação. Alguns livros realmente precisam de muito tempo pra assentar (a tetralogia segue assentando eternamente por aqui também! rs)

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