Ilustração: Andy Rementer
Ao revisitar textos antigos, notei opiniões generalistas, uma tendência a querer falar por um todo. As mães, as mulheres, as jornalistas. Usava “nós” e “eles”, quase nada de “eu”. Talvez fosse falta de coragem, de confiança, mas também um ato de preservação. Escrever é se expor. É implicar a si mesmo numa ideia, na defesa ou na crítica de conceitos. E por muito tempo não me achei à altura disso. Talvez um vício do jornalismo, que preza por comentaristas já muito escolados, com longo tempo de carreira ou profundo conhecimento de certos temas. Mas o que faço aqui não é um noticiário. São registros dos meus dias, de pensamentos obsessivos, de paixões. Quem melhor do que eu para falar do que me interessa? Por que me esconder atrás de apontamentos coletivos, quando o que mais quero é falar em primeira pessoa?
Em Como escrever bem, o clássico guia escrito por William Zinsser, há um ótimo trecho sobre o sumiço do “eu”:
[...] fazer escritores usarem o “eu” não é nada fácil. Eles acham que precisam antes conquistar o direito de expor as suas emoções ou ideias. Ou então que isso é egoísmo. Ou algo não muito digno - um medo que aflige o mundo acadêmico. […] temos medo de revelar quem somos. As instituições que pedem o nosso apoio enviando-nos seus folhetos parecem todas iguais - hospitais, escolas, bibliotecas, museus, jardins zoológicos - embora tenham sido fundadas e ainda sejam mantidas por homens e mulheres com sonhos e visões diferentes uns dos outros. Onde estão as pessoas? É difícil detectá-las em meio a todos esses textos impessoais na voz passiva que dizem “iniciativas foram adotadas” e “prioridades foram estabelecidas”. (pág. 34 e 35)
E assistindo ao bate-papo do lançamento de O riso da medusa, de Hélène Cixous, fui presenteada com a seguinte citação:
Eu falarei da escrita feminina: do que ela fará. É preciso que a mulher se escreva: que a mulher escreva sobre a mulher, e que faça as mulheres virem à escrita, da qual elas foram afastadas tão violentamente quanto o foram de seus corpos. Pelas mesmas razões, pela mesma lei, com o mesmo objetivo mortal. É preciso que a mulher se coloque no texto - como no mundo, e na história -, por seu próprio movimento.
Encontrar o caminho de um texto mais próximo de mim é um trabalho penoso, constante. Quando sinto que escrevo com distanciamento excessivo, deleto tudo e começo de novo. Meu projeto é me fazer presente por completo.
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- Ecologia, de Joana Bértholo
- Os coadjuvantes, de Clara Drummond
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Tenho pensado tanto nisso - sobre o impulso de me expor e as barreiras internas que preciso desmontar pra isso… amei o texto ❤️