Leio de tudo e gosto de bastante coisa, mas percebi que as histórias que mais me tocam são aquelas sobre a vida comum, com o ordinário tomando o protagonismo para si. Léxico familiar, de Natalia Ginzburg, tem muito disso. É um tal de contar os dias, os causos repetidos de tempos em tempos em volta da mesa de jantar. Não tem nenhum grande evento, nenhum twist carpado na trama. Parece simples, mas te pega de canto e te derruba em reflexões inesperadas - e grandiosas. Alejandro Zambra, enorme fã de Ginzburg, também tem no rotineiro o seu principal material. Narra começos e términos de casais que poderiam ser os nossos. Discute como poucos a relação ambivalente entre padrastos e enteados. E fala da difícil tarefa de conciliar memória e realidade. De novo, não tem nada demais ali, nenhuma técnica mirabolante, mas tem MUITO, sabe? Li Bonsai de uma sentada só. Literalmente. Esperava por meu marido numa livraria de shopping e peguei o livro fininho que costumava sair pela Cosac Naify. Fui logo sugada para a intimidade de Emilia e Julio. É essencialmente uma DR, mas das boas. Terminei fã de Zambra e fui atrás dos títulos que já haviam sido publicados. A vida privada das árvores, Formas de voltar para casa, Meus documentos. Numa viagem ao Chile comprei Múltipla escolha. E agora, muitos anos depois estou vivendo um reencontro com esse autor tão querido. Poeta Chileno é maravilhoso. Uma leitura deliciosa. Fala mais uma vez de amores, de família. Questiona o modelo de masculinidade, critica com ferocidade os pais omissos. É também, como o título entrega, um tributo à poesia, ao que nos leva à escrita. Da força visceral da palavra, mas também da vaidade por trás dela. Talvez seja o meu preferido entre todos. Estou chafurdando feliz nas muitas referências a filmes, séries, livros que permeiam o livro. Uma educação sentimental e cultural extremamente bem construída.
A obra de Zambra agora é publicada pela Companhia das Letras, como vocês devem ter notado pela imagem que abre esta newsletter. A editora optou por lançar numa única edição todos os romances anteriores. Não sei bem o que pensar desse formato, mas pode ser interessante para quem quer botar a mão em tudo logo ;)
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Oi, Babi! Ia responder seu e-mail, mas achei que cabia comentar aqui. Tô com você, amo as narrativas cotidianas e fiquei doida pra ler o Zambra, que não conheço. Mas queria comentar um link que você colocou sobre a vida ser mais feliz com ou sem filhos e, partindo de um ponto de vista dos espaços do patriarcado e dos núcleos familiares individuais e isolados, como arquiteta, cada vez eu acho mais cruel a ideia de que a vida com filhos é pesada em si. Como uma pessoa que não tem filhos, mas quer ter, eu penso que o que eu quero é construir um cotidiano, um dia-a-dia gostoso que envolva criar outras pessoas. Não imagino que ninguém que queria filhos se inscreva para uma vida em que "não há ninguém pra ajudar, não há ninguém pra cuidar da casa, o pai tão consta, as frustações e a falta de sono são o tom da vida pros próximos 10 anos". Penso que, nesse cenário, algo deu muito errado, sabe?! Entendo que é a vida de muitas mulheres, ainda mais nos grupos vulneráveis, mas fico achando que maternidade e paternidade não são sobre isso. Que ninguém entraria na fila pra uma vida de tortura e insatisfação. Mas hoje em dia parece que, se você tem uma rede de apoio com familiares e amigues, que tem ajuda paga e uma estrutura confortável pra criar os filhos, você é a exceção da exceção da exceção. Penso que frustação, cansado, sobrecarga e angústias fazem parte da vida, com filhos ou não (outra coisa pq parecem às vezes descrever a vida de solteiros como verdadeiros paraísos). Enfim, me alonguei mas meu objetivo era só mesmo dizer que o capitalismo e o patriarcado criaram uma forma de vida que aniquila a felicidade não pq crianças precisam de atenção, mas pq sofrimento rende renda para terceiros. Beijos e desculpa de novo pelo textão hahaha Adoro sua newsletter e se quiser falar um pouco mais sobre como isso é pra vc e o joca, seria mto legal :)