EXTRA #71 - Queria ser grande só para apoiadores

um inventário da ressaca

1. Ressaca — e não de carnaval.

2. Dei tudo de mim nos últimos meses e agora me sinto à deriva. Deriva boa, deriva em meio a um tantão de possibilidades. Mas ainda assim... deriva.

3. Vinha anotando numa lista as coisas que sentia falta, coisas que a rotina corrida tinha tirado de mim. O primeiro item: ler sem compromisso, só para me apaixonar pela história. Até rolou antes da hora, antes de eu me desfazer das obrigações. Foi com Mar da tranquilidade, de Emily St. John Mandel e tradução de Débora Landsberg. Uma história de viagens no tempo, pandemias e discussões sobre escrita. Um tesouro de livro que me sustentou durante a ansiedade do fim do prazo do mestrado.

4. Só que agora que tenho mais tempo não encontro nada que me arrebate assim. Comecei um sem número de livros nos últimos dias. Uns até bem bons, mas não viciantes. Babel, de R.F. Kuang e tradução de Marina Vargas, me empolgou no começo. Fala bastante de tradução, de colonialismo, se passa em Oxford, tem um quê de magia. Mistura excelente, mas sei lá… Já não tenho mais vontade de correr para abrir o arquivo no Kindle. Devo continuar? Vai melhorar?

5. Talvez o problema seja esse desejo absurdo de mergulhar em uma nova obsessão. E a impressão errada de que coisas maravilhosas têm que me pegar desde a primeira página, desde os primeiros minutos. Eu tenho tantos exemplos contrários, mas parece que me esqueci deles. Com a tetralogia de Elena Ferrante foi assim — um caminho lento no princípio e avassalador depois de quase um livro inteiro.

6. Resolvi, então, segurar minha onda, minha falta de paciência. E fiz isso de duas formas: persisti na série The Wire e no livro A parede, de Marlen Haushofer e tradução de Sofia Mariutti.