EXTRA #11 - Queria ser grande na FLIP
Desaprender. É a palavra que sublinhei no meu caderno de anotações depois de ouvir Tamara Klink e Nastassja Martin.
O verbo surgiu já na segunda resposta, quando a antropóloga francesa explicou o que tem de tão atraente no ato de viajar: o desejo de entender um mundo que não é o dela — e para conseguir se aproximar disso é preciso desaprender. Esquecer do próprio léxico. “Não dá para mudar o modo de pensar se você não se expõe ao que não se espera”.
Lembrou que os evens, povo indígena da Sibéria, acreditam que para sonhar com outras pessoas e lugares é fundamental sair de casa, se deslocar. E há sempre perigo nesse movimento, mas Nastassja vê o risco como uma abertura para estar vulnerável e, assim, absorver o inusitado.
Tamara Klink falou de um risco diferente, o da solidão. Contou que foi alertada de que poderia desaprender a conviver em sociedade. Ela concordou. O mar pode ser perturbador, mas lá os riscos, ainda que possivelmente fatais, são calculados, projetados. Em terra firme, não.
No finalzinho, uma pergunta da plateia as fez falar sobre o futuro das viagens de aventura e exploração. Nastassja retomou a ideia que esboçou no começo da conversa, de que esse tipo de peregrinação acabou. A opção apenas pelo externo não se sustenta mais. O importante agora, disse ela, é viajar internamente, buscar a metamorfose. E também resgatar ou abrir espaço para narrativas marginalizadas. “É preciso romper com esses heróis egoicos que realizam performances que servem à visão moderna e progressista de mundo que está nos levando ao abismo. É preciso mudar de rumo”.
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Errata: na edição anterior, mandei um palpável com U - pois é, quem poderia imaginar que escrever cansada e depois de uns copos de Jorge Amado daria ruim? ¯\_(ツ)_/¯