#99 Queria ser grande, mas desisti
Eu demorei a ter coragem para publicar meus textos por aí. Achei que ninguém teria interesse de ler ou que eu não teria coisas tão interessantes para dizer. Vez ou outra ainda me pego pensando nisso, mas faço um esforço para fechar os ouvidos para essa voz hesitante.
Quantas vezes você já sentiu o mesmo? De que o projeto que você gostaria de tocar não é importante? De que você precisaria ser realmente ALGUÉM para escrever um livro, gravar um vídeo, postar suas opiniões?
Tem um pouco de Síndrome do Impostor, mas tem muito de uma tendência a endeusar aquelas pessoas que "chegaram lá". Como se elas não sentissem o mesmo que a gente, não ficassem ansiosas ou duvidando do próprio potencial. Como se elas tivessem algo mais, algo que a gente não tem.
Pensei bastante sobre isso depois de ouvir um dos mais recentes episódios do podcast Bobagens Imperdíveis, no qual a Talita Di Iorio conta a história de quando resolveu fazer uma residência artística na Itália para tentar resgatar a criatividade que tanto permeou a infância dela. No final da experiência, a lição que ficou foi essa aqui:
"Ver de perto outras pessoas criando me fez ver que tudo é meio mambembe até que provem o contrário, sabe? Tudo é muito caseiro, tudo é muito provisório, tudo é muito bagunçado. Um projeto nasce na sua cabeça e ele é tão oficial quanto você o faz. E quem faz ele oficial é você. Não é se você ganha dinheiro com isso, não é se muitas pessoas viram ele, não é se ele está numa mídia x ou y. Eu acho que essa é a grande questão e a grande beleza da arte. Quantas vezes alguém vê um quadro de arte abstrata e fala 'ah, mas eu podia ter feito isso'. Sim, essa é a beleza: todo mundo podia. Mas foi outra pessoa que fez. E aquilo ganhar status de arte ou não é um negócio muito subjetivo. E ele depende basicamente de você se autorizar."
Talita Di Iorio para o Bobagens Imperdíveis
Depende basicamente de VOCÊ se autorizar. Autorizar a si mesma a ver valor nas próprias ideias, a parar de pensar que somente pessoas especiais podem expor um pouco de si. Somos todos especiais, somos todos inéditos.
Ouvir tudo isso me deu gás para levar a sério projetos que ando rascunhando faz tempo. Coisas relacionadas à newsletter, ao meu trabalho oficial-real e a estudos que tenho vontade de fazer. Estou me autorizando <3
A importância de falar sobre nossas vulnerabilidades
O movimento getting real do Instagram - o mundo perfeito e irreal das redes sociais cansa e tem gente indo na direção oposta. Vale também ler o ensaio da Tavi Gevinson sobre as diferentes personas que ela encarna dependendo da mídia que está usando (em inglês)
A rotina de grandes escritores
Um relato emocionante
Li de uma sentada só o pequeno, mas incrível, Ideias para adiar o fim do mundo. É o compilado de duas palestras e uma entrevista com Ailton Krenak, líder indígena que mora na região do Rio Doce. Ele fala sobre humanidade, sobre diferenças, sobre resistirmos.
"Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar"
Um texto lindo do Murakami sobre o pai - um cara que escrevia haiku para suportar a solidão e os sofrimentos da guerra
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