#88 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Megan Sebesta
Eu sou uma controladora assumida, mas disfarço bem.
Pra quem não me conhece de perto, parece que estou de boa deixando a vida rolar. Não estou. Já calculei todos os cenários e me preparei mentalmente para os obstáculos que possam surgir. E sendo sincera, acredito que só eu farei as coisas do jeito que TÊM que ser feitas.
Com esse ponto esclarecido, sou obrigada a admitir que minha vida se transformou - para melhor - a partir de uma situação em que o controle foi tirado das minhas mãos.
Eu estava num relacionamento de uns 7 anos quando meu namorado resolveu fazer um intercâmbio. Seriam 7 meses em outro continente. Eu não funciono num relacionamento à distância, então a decisão foi fácil: terminaríamos assim que ele embarcasse, dali uns 5 meses. O depois ficaria para depois. O difícil mesmo foi digerir o fato de que os planos que eu estava fazendo para os próximos anos não eram mais razoáveis.
Planejávamos viagens.
Estávamos olhando apartamentos.
Pensávamos em um dia nos casar e quem sabe ter filhos.
Eu estava bem com esses planos, um caminho óbvio na minha cabeça. Só que uma decisão unilateral acabou com eles. E como pedir para ele ficar nunca foi uma opção pra mim, ele foi e eu fiquei aqui com uma lista em branco para os próximos anos.
O primeiro mês foi difícil, pra caramba. Nada de companhia certa para o cinema, para o restaurante. Ninguém para desabafar sobre o meu dia. Precisei sair da minha concha. Comecei a sair com amigos diferentes, a fazer programas diferentes.
Os dias passaram e minha confiança cresceu. Lembrei de como é bom estar solteira, não precisar considerar a opinião do outro sobre o que fazer no final de semana. Respeitar o que eu queria fazer era a única preocupação.
E daí comecei a repensar tudo aquilo que tinha traçado antes de me separar. Meu namoro estava tão bem a ponto de querer morar com ele? Não estava. Percebi que o que me segurava ali era a vontade de seguir com o plano, o medo de abrir mão de algo já tão conhecido, o pavor de ter que começar tudo de novo.
Ele foi mais corajoso do que eu e acabou me libertando no processo.
Eu podia aqui continuar a história contando que poucos meses depois resolvi dar uma chance para um colega de trabalho que vinha me paquerando há anos, dizendo que ia casar comigo e tudo. Ele estava certíssimo. Mas o que importa mesmo neste relato é a jornada que percorri até o ponto de me abrir pra esse novo amor, para uma versão mais fiel a mim mesma, pra uma vida com menos controle, com mais vulnerabilidade.
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