#86 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Francesco Ciccolella
Faz algumas semanas que terminei o livro A velocidade da luz, do Javier Cercas, e continuo pensando nele. A história me tocou bastante porque fala sobre o ofício do escritor. Umas das principais questões que o texto aborda é se o escritor escreve porque tem uma necessidade física de revelar o mundo ou se ele enxerga o mundo diferente porque se propõe a ser escritor.
Vamos tentando desvendar a resposta ao acompanhar a vida de um jovem catalão que quer conquistar o mundo com as palavras. Mais do que escrever sobre determinado assunto, ele quer é ser lido, ser relevante, ter sucesso.
Um amigo que ele conhece nos Estados Unidos, para onde vai dar aulas e desenvolver suas técnicas, o alerta para o perigo desse sucesso. Para o americano, a glória é a casa do empobrecimento da criatividade e o fim do comprometimento com a verdade que nos habita.
A vida do catalão segue o rumo ditado pelo amigo. Ele, enfim, vira um escritor famoso e por um tempo absorve todo o glamour que vem na esteira. Até que... a seta vira pra baixo. Não vou dar mais detalhes para, obviamente, não estragar a experiência de quem pensa em ler o livro.
Esse conto de fracasso e sucesso me lembrou bastante o que temos experimentado na pele ou vendo outros passarem diante do grande negócio que as redes sociais se transformaram.
Estamos todos ali produzindo conteúdo, seja com o objetivo claro de gerar dinheiro ou não. E queremos ser reconhecidos por isso através da aprovação dos outros, das marcas, do algoritmo. Essa necessidade de agradar vai minando a espontaneidade, vai mascarando o que somos.
Em meio a essa reflexão, li uma reportagem sobre o desabafo do youtuber Whindersson Nunes. Numa sequência de posts no twitter, ele contou como vem se sentindo triste e com pouca vontade de tocar a vida como está. Poderia ser um caso isolado se não existissem outros relatos similares, como a matéria bem destaca.
Aqueles que começaram de um jeito genuíno, se veem agora pressionados por números de seguidores, volume de produção e uma competição enlouquecedora com qualquer onda nova que surge na internet.
A alternativa é o fracasso, então? É não ter comprometimento com nada e ninguém?
Queria que o final do livro tivesse me dado a resposta.
Para continuar no tema, o Mamilos fez um podcast ótimo sobre fracasso: o avesso da jornada do herói
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