#81 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Matt Blease
Não sei o feed de vocês, mas o meu está repleto de pessoas cansadas das redes sociais. Gente que produz conteúdo e agora já não sabe mais por qual motivo tem feito isso. Gente que se sente pressionada a acompanhar tudo que acontece e a opinar sobre cada fato. Gente que tem ficado ansiosa e deprimida por espiar constantemente a vida dos outros.
A internet que eu conheci no começo da minha adolescência era um lugar bem diferente. Era um espaço de acolhimento e liberdade. Um lugar para você desabafar e encontrar pessoas desconhecidas que se sentiam do mesmo jeito. Uma plataforma que te ajudava a colher informações dos seus interesses favoritos e passar horas debatendo as descobertas.
O que foi que mudou?
Na minha humilde e leiga opinião, o que mudou foi a criação de ferramentas para medir o tal do engajamento. Antes a gente escrevia um textinho num blog, num tumblr ou no orkut e tínhamos pouco ou nenhum controle de quem tinha visto aquilo. Se alguém comentasse, maravilhoso. O que valia, na minha percepção, era a troca, era ser compreendido.
Hoje, com os likes, os compartilhamentos, as impressões, o que vale é atingir o maior número de pessoas. Atingir de que forma? Não interessa muito. A gente está viciado no alcance, no número de seguidores, na competição com outros.
Eu não me excluo desse cenário. Já me preocupei com isso, tanto nas redes sociais como num blog que já tive e aqui mesmo nesta newsletter. Eu consigo ver quantas pessoas abriram cada e-mail, quantos cliques os links tiveram. Quando uma carta vai bem, lindo. Quando isso não acontece, me vejo pensando no motivo. Será que é o tema? O horário de envio? O que eu posso melhorar?
Questionamentos válidos e tal, mas o ponto é que eu não ganho nada com isso. Eu escrevo porque essa é a forma que eu encontrei de digerir o mundo. Faz parte de quem eu sou. Mas agradar os outros não faz. Eu já preciso ter essas preocupações no meu trabalho, onde audiência, sim, significa dinheiro. Aqui não, não posso cair nessa armadilha.
Por isso, já faz um tempo que não olho mais nenhuma dessas métricas. Escrevo quando sinto que tenho algo bacana para compartilhar. Do contrário, não mando a newsletter. Acho mais honesto, comigo e com vocês. A realidade é que ninguém precisa consumir conteúdo o tempo inteiro. O que a gente precisa é de conexão, é de verdade. Seja pela internet ou presencialmente.
Nesta fase de reinvenção das newsletters, muita gente vendeu o modelo como um descanso da pasteurização das redes sociais. Será que é mesmo? Com tanta gente mandando e-mail por aí, nossas caixas de entrada estão cheias de textos que nunca vamos ler, gerando mais uma vez aquela culpa de não-consigo-dar-conta-do-mundo. Esse artigo, em inglês, do Craig Mod resume bem o momento.
Nick Cave explica por que uma inteligência artificial nunca vai escrever uma grande música
Um relato sincero de alguém que não acha o sexo a coisa mais importante do mundo - pra gente entender melhor a tal da geração que não transa mais
Uma conversa sobre acesso e privilégios
Você lê graphic novels/HQs/gibis/mangás? Esse ano me propus a ler diferentes formato. No momento, estou terminando V de Vingança, do Alan Moore. E só posso dizer: uau!
Recebeu a cartinha da semana, mas ainda não assina a newsletter? É só se cadastrar aqui. Também dá pra ler as edições antigas <3
Se quiser me acompanhar: @babibomangelo