#79 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Sara Fratini
Alguns livros me intimidam. E todos eles pertencem a uma só categoria: a dos livros celebrados.
A obra de Tolstói é um ótimo exemplo. Eu tinha certeza de que não era pra mim. Achei que a linguagem seria rebuscada, o tema muito longe da minha realidade. Enfim, pensei que eu não fosse capaz, que não fosse inteligente o suficiente.
Pensei isso também de A insustentável leveza do ser (título muito filosófico e tal), de Moby Dick (texto "antigo" e assunto complexo) e, mais recentemente, de Cem anos de solidão (o realismo fantástico do García Márquez seria tão louco que eu não entenderia?).
Mordi minha língua em todos os casos. Sobre Anna Kariênina já falei por aqui, mas é importante relembrar que, embora pareça uma dessas obras intransponíveis para os padrões de hoje (minha edição tem 808 páginas), o texto foi publicado em formato de folhetim, como capítulos numa revista. Quer algo mais popular do que isso?
Já A insustentável leveza do ser foi um dos livros mais vendidos em 1984, o ano em que foi lançado. Cem anos de solidão é de 1967 e está na lista dos mais vendidos e traduzidos em todo o mundo. Não é do nada que uma história consegue se firmar ao longo de tanto tempo assim. Não falo aqui só do fator qualidade da escrita, mas também da questão de identificação, da possibilidade de tomar como seu aquele universo criado por outra pessoa.
Foi a partir de 2017 que comecei a superar o medo de livros como esses. Percebi que era uma perda de tempo ficar adiando leituras que eu tinha tanta curiosidade em começar. Por que não tentar primeiro e decidir depois se aquela narrativa era pra mim? É o que tenho feito: baixo a amostra no kindle, leio as primeiras páginas na livraria ou dou uma espiada em algumas resenhas.
E assim tenho descoberto novos livros para chamar de meus. Cem anos de solidão é uma das coisas mais lindas que já li. Terminei com um nó na garganta. Ainda penso em Macondo, Aurelianos e José Arcádios. Se você não sabe do que estou falando, vai lá e pega pra ler. É envolvente pra caramba.
E você? De qual livro ainda tem medo?
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