#69 Queria ser grande, mas desisti
Arte da Helene Delmaire
Eu me enxergo assim: uma mulher de olhos grandes, nariz torto, um cabelo cheio de frizz e com uns "chifres" bem acima da orelha. Não sou alta nem baixa, não sou loira nem morena. Apesar de estar com uns quilos a mais desde que me libertei da dieta para amamentar meu filho alérgico, continuo me vendo magra, mas com um culote em expansão. Tenho tatuagens, algumas cicatrizes e poucas pintas. Meus dentes poderiam ser mais brancos e mais retos, meu rosto poderia ter menos marcas das espinhas passadas.
Em dias bons, eu foco mais nas coisas que gosto em mim. Nos dias ruins, invento outros defeitos.
Eu me vejo desse jeito, mas como as pessoas me enxergam? Pode ser que a análise seja muito parecida ou pode ser totalmente diferente. Nunca vou saber ao certo.
Não escrevo isso por andar preocupada com a opinião alheia, mas porque me surpreendi com a ideia de que o olhar do outro pode ser mais gentil do que o meu. Tenho pensando nisso desde que vi uma propaganda antiga da Dove, como parte das aulas de um curso que venho fazendo.
No vídeo em questão, vemos algumas pessoas se descrevendo para um perito forense, desses que fazem retrato falado. Ele está atrás de um tecido e não pode olhar para ninguém. Dessa forma, o artista depende exclusivamente dos detalhes que cada um conta para conseguir reproduzir os rostos. As dicas quase sempre trazem uma crítica junto, um jeito cruel de encarar a própria feição.
Terminado o esboço, a pessoa que serviu de "modelo" sai e uma outra é chamada para ajudar nos desenhos. A missão dela é descrever a mulher ou homem que acabou de deixar o local. Um outro retrato é feito e depois os dois são comparados.
Todas vezes, TODAS, o resultado da auto-descrição foi uma imagem pouco fiel. Uma personagem mais triste, menos real. O outro desenho, não. Foi construído com palavras mais gentis e objetivas, sem a carga emocional embutida na primeira arte.
Como isso pode ser real? Como um desconhecido pode nos ver de uma maneira mais exata, mais complacente do que nós mesmos? Somos nosso pior crítico, sempre. E isso é tão danoso e se espalha por todas as áreas da nossa vida.
Não tenho uma resposta para como melhorar isso. Você tem? Tem algo que você pratique para ter uma avaliação mais carinhosa sobre si mesmo?
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