#66
Ilustração: Sarah Gonzales
Quantas revoluções cabem no espaço de um ano?
Eu era outra pessoa em julho do ano passado. Tinha 31 anos, uma barriga de nove meses e não podia imaginar como tudo se alteraria com a chegada do Joaquim. Dizer que nada do que planejei aconteceu é pouco para descrever os primeiros meses da maternidade.
Já sabia que não ia dormir, que amamentar não seria fácil, que os hormônios me deixariam extremamente sensível. Adiantou saber? Não. Foi sofrido do mesmo jeito, mas o mais dolorido mesmo foi encarar que jamais voltaria a ser quem eu era antes.
E, poxa, eu gostava tanto da minha vida. Eu tinha tempo para os meus livros, para cozinhar, para não fazer nada. Eu podia ser espontânea, decidir ficar até tarde numa festa, viajar de repente ou pegar um cinema no meio da tarde. Mas de um dia pro outro, e por uma escolha minha, essas coisas deixaram de ser uma possibilidade e eu demorei a aceitar que seria assim.
Eu me dediquei pra caramba ao meu filho. Doei meu tempo, meu corpo, minha sanidade mental - como a grande maioria das mães faz. E não conseguiria ter feito menos do que isso, mas lá no fundinho da minha mente eu ficava ansiando por um breve retorno ao passado, por um escape.
Pensei desse jeito por semanas, mas como não encontrei a máquina do tempo no meio do dilúvio das minhas lágrimas, comecei a me adaptar. Aprendi a pedir mais ajuda, a me permitir estar perdida. E com a aceitação veio um alívio no peso que eu vinha carregando.
Os meses passaram e eu peguei o jeito da coisa. Dormir pouco já não me derrubava, o choro não assustava e o amor ficava mais forte. E quando comecei a curtir a beleza de ver alguém crescendo, o tempo correu e logo minha licença-maternidade estava para acabar.
Fiquei com medo de como seria não estar 24 horas por dia ao lado do Joaquim. Eu iria gostar de retomar um pouco da vida de antes? Ué, não era tudo o que eu mais queria? Não mais. Eu já tinha mudado. Já era outra pessoa.
Eu voltei a trabalhar, sim. Por necessidade e também por paixão. Mas ao mesmo tempo que está tudo igual, está tudo diferente. Eu agora encaro as questões profissionais com mais leveza, mas também com mais garra. E essa atitude se espalhou por todas as áreas da minha vida. Agora, problema mesmo pra mim é acontecer algo com o meu filho.
Quando estou com o Joca, estou inteiramente com ele. E quando estou sozinha aproveito cada minuto para alimentar meus desejos. Ando querendo abraçar o mundo e também desacelerar. Sentimentos contraditórios e muito intensos, mas que me fazem bem.
Ao completar 32 anos esta semana, senti que atravessei uma imensa ponte. Atravessei para uma nova Bárbara. E estou gostando muito dela <3
Está todo mundo falando de Nanette, o stand-up da comediante Hannah Gadsby, e por um bom motivo: é maravilhoso. Eu não conhecia o trabalho dela e fiquei encantada com a forma como ela mistura comédia com assuntos tão importantes como gênero, homofobia e autoaceitação. Tem pouco mais de 1h e vai te transformar <3
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