#65 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Itsuko Suzuki
Conversando sobre livros com os amigos do trabalho, percebi a predileção que tenho por histórias de superação em meio à natureza. Trilhas extensas e tortuosas, escaladas mortais ou simplesmente a busca por uma vida mais simples, longe das cidades.
O primeiro relato que li nessa linha foi No ar rarefeito, do Jon Krakauer. Ali, ele narra a viagem e provações de dois grupos de escalada no Everest. Krakauer era um dos integrantes dessa incursão que se tornou uma das mais trágicas da montanha.
Jornalista e alpinista, ele foi contratado por uma revista para escrever uma matéria sobre as expedições comerciais que estavam lotando o Everest - pessoas sem experiência alguma podiam pagar uma pequena fortuna e serem praticamente carregadas até o topo. A prática era (e é) altamente questionada por colocar a vida de muitos em risco, desde a do aventureiro inexperiente até a dos sherpas, povo que vive nas montanhas do Nepal e que é contratado para ajudar na escalada.
O resultado dessa viagem, como eu já disse antes e o próprio livro alerta no começo, foi desastroso: quase uma dezena de mortos. Triste para caramba, mas também é uma aula de como não devemos subestimar as forças naturais e os nossos limites.
Devorei esse livro em uma semana, no máximo. Fiquei órfã de histórias como essa e, por isso, parti para mais uma do Jon Krakauer, essa já conhecida de muita gente: Na Natureza Selvagem.
Antes de começar a ler, eu pensava que não ia encontrar muita novidade. Eu vi o filme uma porção de vezes e pesquisei bastante sobre a vida de Christopher "Alex Supertramp" McCandless. Mas encarar a investigação minuciosa de Krakauer foi uma das melhores experiências de leitura que já tive.
O ponto de partida é descobrir o que motivou um jovem de 22 anos a abandonar a vida confortável que tinha para se jogar pelos Estados Unidos sem dinheiro e com um único objetivo: viver em comunhão com a natureza. Pra entender melhor o que se passou, Krakauer percorreu o mesmo caminho que McCandless. Encontrou muita gente disposta a falar dele, mas também se deparou com trechos nebulosos sobre a jornada. É um enorme quebra-cabeça permeado por muita poesia, um jeito lindo (ingênuo e puro) de encarar a nossa existência.
Agora, o livro da vez para mim é Livre, da Cheryl Strayed. Terminei de ler um pouco antes de começar a escrever para vocês. E que coisa linda! Melhor do que ler uma história-real-de-aventura é ler uma história-real-de-aventura do ponto de vista de uma mulher. A identificação é muito forte.
Cheryl estava num momento de merda: a mãe tinha morrido há alguns anos, estava se divorciando depois de trair repetidamente o marido e vinha usando heroína. Um dia, andando por uma loja de equipamento esportivo, ela encontrou um guia sobre uma trilha chamada Pacific Crest Trail, que percorre o oeste dos Estados Unidos, da fronteira com o México até depois do Canadá. Cansada da vida que vinha levando, ela olhou pra capa daquele guia e resolveu, assim de repente, fazer boa parte da caminhada.
Já no começo, ela percebeu que não tinha se preparado o suficiente. Sofreu com as botas, com o fogareiro que não funcionava, com o peso absurdo da mochila. Teve medo de cada homem que cruzou o seu caminho. Afinal, a mulher que se aventura não tem medo apenas de se perder, de passar fome. Tem medo de ser estuprada pelo simples fato de ser mulher.
Apesar de tudo, ela seguiu. Carregando todos esses poréns e também os fantasmas dos quais queria se livrar. Um processo de cura e de aceitação sofrido, mas inspirador. <3
E você? Tem algum tipo de história que te atrai mais?
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