#62 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Andrea Wan
Já faz uns bons anos que eu pensava em aprender tricô, com um claro objetivo: fazer mantas e malhas cheias de afeto para todos da família.
Peguei uns vídeos na internet, espiei algumas pessoas na vida real, arisquei uns pontos aqui e ali. Nada de ir pra frente. Tricô é complicado, pelo menos pra mim. Bordados e costuras (na mão ou à maquina) são coisas que eu consigo entender, visualizar. Agora tricô... você vai fazendo e não sabe onde vai dar, se é que está dando em algo. Daí deixei de lado, mas coloquei na cabeça que um dia faria um curso. Um dia.
Esse dia é o mesmo em que vou fazer aulas de desenho, de arranjos florais, retomar o estudo de alguma língua, levar a sério o meu gosto pela escrita e pela edição de textos. Estou esperando essa data chegar, mas o grande problema é que não a encontro no meu calendário. É que esse dia, na verdade, é uma ilusão que eu gosto de alimentar.
Queria poder dizer que esses desejos não se concretizam por pura ausência de tempo, mas não é bem isso. Não que eu tenha tempo sobrando, longe disso, mas agora vejo que o impedimento é um misto de falta de planejamento e de vontade real de fazer acontecer.
Mas com a chegada do Joca algo mudou na minha cabeça. Com ele, vejo pra valer como o tempo nos engole. Um dia desses ele era um pacote que só dormia. Agora, ele explora a casa toda e lê/destrói todos os meus livros. Uma transformação imensa em apenas 9 meses e meio.
Se ele não tivesse nascido, aposto que eu não teria feito nada de muito diferente do esquema casa/trabalho durante esse mesmo período. E cara, esse pensamento me assustou. Eu teria vivido quase 1 ano movida pela inércia. É claro que teriam alguns pontos altos: uma viagem com amigos, um casamento, um dia gostoso em família, mas nada que fugisse do que já conheço.
Estava com isso em mente quando vi o anúncio de um curso de tricô para iniciantes. O preço era aceitável e o horário se encaixava no meu. Afastei aquela ponta de preguiça de me imaginar saindo da rotina, de ter que montar um esquema para o Joca, e apertei com vontade o botão de inscrição.
A primeira aula foi na semana passada e só posso dizer: que coisa boa eu fiz por mim.
Que sensação gostosa essa de ter feito algo que há tanto tempo morava nas minhas listas. Quero é mais sair fazendo tudo que eu tenho vontade, sem pensar em colocar na conta do "um dia". Que a coragem de agir permaneça <3
Nessa pegada de ir atrás do que nos faz bem, o New York Times publicou um texto que fala sobre a importância de termos hobbies, coisas que façam um carinho no coração e que nada tenham a ver com o nosso trabalho real.
A grande figura dessas últimas duas semanas foi o ator/cantor/roteirista Donald Glover, ou Childish Gambino. Ele lançou o clipe da música This is America e monopolizou as conversas sobre racismo com a crueza, inteligência e coragem como abordou o tema. Glover também é a mente por trás da premiada série Atlanta. Não faz muito tempo a New Yorker escreveu sobre ele e achei interessante pra caramba
O desabafo de uma mãe cansada de ver sua filha ser excluída por ser negra
Uma conversa sobre feminismo, assédio e masculinidade tóxica
E aqui a visão do ator Terry Crews sobre os mesmos assuntos. Confesso que não vejo muitos homens falando disso
Uma ótima análise dos tweets dos pré-candidatos à presidência
Como ter conversas mais significativas
Projeto dá visibilidade ao principais leitores do Brasil: os presidiários
A Lush vai fechar as portas no Brasil, de novo. Uma pena :( O lado bom é que tem um pessoal reunindo marcas brasileiras com essa mesma pegada de produtos sem testes em animais e feitos com ingredientes naturais. Deixo para vocês dois links: esse e esse
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