#257 Queria ser grande, mas desisti
nós estamos o quê? REPITA COMIGO: vendo as mesmas coisas, consumindo as mesmas imagens
Esta semana, esfregaram na minha cara a farsa do conteúdo ultra personalizado das redes. Sabe aquele pacto que fizemos com o diabo? De topar que rastreiem toda a nossa vida em troca de posts com nossos interesses mais íntimos? Pois é, isso já não se sustenta faz tempo e veio à tona com força nessas correntes de Instagram. Você deve ter visto: “digite no Pinterest LITERALLY ME CHARACTERS e escolha seis”. Ou então aquele rolê de procurar por mood, fashion, food… É, escrevendo assim parece uma grande bobagem, mas é uma bobagem da qual eu gosto de participar. Olho com carinho a escolha das amigas e também vou em busca das minhas. Mas aí que mora o perigo. Fui no Pinterest, segui as ordens e… apareceram as mesmas imagens que todas estavam postando. As mesmas. Uma profusão da moça de Fleabag, Saoirse Ronan como Jo March (que eu amo para sempre), a Kat de Dez coisas que eu odeio em você, Clementine de Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Aconteceu o mesmo com mood (foto de Jennifer Aniston como Rachel com as mãos na cara, numa posição de não aguento mais). E com fashion e com food e com qualquer outro termo da busca. É, a gente não é tão especial assim. Tão única. E nem está recebendo um conteúdo sob medida. O bombardeio de referências é meio que o mesmo para alguns grupinhos. O meu talvez seja o das gatas garotas que gostam de livros, com um lado um tanto rebelde, um tanto dramático, um tanto nerd e um estilo que se resume a calças jeans e camisetas. Eu e uma galera. E nós estamos o quê? REPITA COMIGO: vendo as mesmas coisas, consumindo as mesmas imagens. Porque, sim, temos gostos parecidos, mas, acima de tudo, porque estamos à mercê de algoritmos que correm para nos definir da forma mais rápida, superficial e eficiente possível. Daí a gente se sente original pra caramba, descolada até o último fio de cabelo e as redes nos vendem loucamente tudo que possa compor essa persona. Construída com a nossa autorização, com a nossa participação. Todo dia, a cada rolar de feed.
Das coisas que mais me assustam na internet: a percepção de que eu não sou só minha, que as minhas escolhas não são fruto apenas das minhas curiosidades, das minhas vontades. Ou mesmo das pessoas de carne e osso com quem convivo ou das ilustres desconhecidas que povoam as histórias que leio — afinal viver é ser afetado pelo outro. Só que no esquema de hoje vou me diluindo em gente que não conheço para além da fachada digital; em discussões que não encontram pé fora das telas; em livros que parecem o suprassumo da arte, mas que não sobrevivem mais de um ano depois de deixarem as vitrines das redes.
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e a edição de hoje é sobre como fazer jornalismo sem o X/TwitterO que fazer com as milhares de ecobag que você tem paradas aí em casa
Uma leitura coletiva que está para começar: O morro dos ventos uivantes
A Pretexto vai conduzir um duelo de tradução literária e a proposta é bacana demais
Daniel Lameira e Aline Valek falando sobre escrita e arte <3
AMANHÃ TEM a primeira roda de conversa sobre o rolê acadêmico. Eu e as incríveis pessoas que financiam esta newsletter vamos nos encontrar para compartilhar dúvidas e angústias. Ainda dá tempo de se tornar um apoiador
No dia 24 de setembro, estarei ao vivo lendo as primeiras páginas de Intermezzo, novo romance de Sally Rooney — TORÇAM POR MIM, nunca fiz isso ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Liberei mais um vídeo: como lidar com projetos de escrita de longo prazo ;) Como sempre, os apoiadores receberam bem antes <3
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
acho a internet perfeita pra compartilhamento de opiniões e recomendações, mas urge que todo mundo entenda que é somente mais uma, que você pode sim priorizar uma recomendação nova, ou descobrir algo naturalmente sem pensar em precisar opinar sobre online no mesmo momento que os outros para entrar no hype. nada contra fazer isso ocasionalmente, eu faço, mas é complicado quando nossa personalidade e gostos começa a se moldar em cima disso
Fiz o teste no Pinterest e fiquei indignada aqui também. Acertada demais sua análise sobre os algoritmos.