Ilustração de Mariyan Atanasov
Na reta final do mestrado em literatura, venho em defesa de uma coisa tentadora e perigosa: a distração. Sei do caminho sem volta que pode ser. Sei que é preciso vigilância para não desandar. Mas sem um pouco dela há o risco de uma vida e de uma pesquisa sem oxigênio. Sem espaço para o acaso, para felizes desvios e ajustes.
O ato de investigar a escrita dos outros encontra a melhor analogia no mergulho. Imenso, profundo e também sufocante. É um tal de chafurdar em análises que, ainda que se proponham diferentes, rondam os mesmos temas. O universo do autor, o universo da história, o universo de teorias afins. É uma maratona em percurso circular. Vez ou outra, a repetição apresenta um detalhe até então escondido na paisagem. Uma epifania. Uma chave que vira. Mas logo a monotonia do ambiente se impõe de novo. E aí é preciso sair, procurar fora. Procurar sem saber o que falta. Apenas absorver outras coisas. Outros escritores. Outros pesquisadores. Outros modos de olhar, de ler. Jeitos diversos de se trabalhar um texto, de levantar hipóteses. Os que mais me agradam são aqueles que se despem da certeza, que não buscam conclusões incontestáveis. Na sala de aula, o professor das últimas quintas-feiras diz que o melhor é uma leitura provisória, instável, atenta e humilde. Exercício aplicado nas formas breves de Ricardo Piglia, J. M. Coetzee, Ali Smith, Lydia Davis, Alice Munro, Anne Carson. Autores distantes de minha Sally Rooney. Ainda bem. Um refresco que me faz voltar para a escrita da dissertação com postura de estrangeira.
A abordagem instável e sem conclusões tem dominado faz um tempo a forma como leio, especialmente a forma como NÃO PLANEJO mais as leituras. É sobre isso que falei no último vídeo enviado para os apoiadores, agora com acesso liberado para todos:
Tenho colhido impressões sobre Intermezzo, novo romance de Sally Rooney, que será publicado só em setembro, mas já chegou para uma leva de resenhistas gringos. Este post aqui me deixou bem feliz ao elencar vários temas que trato na pesquisa, como a precarização do mercado de trabalho, crise de moradia e dinâmicas de poder
Para os apaixonados por literatura irlandesa e James Joyce: na próxima segunda tem Bloomsday lá na USP \o/
Leitora tem cada uma…
Um curso de introdução ao pensamento feminista
O novo ciclo do clube de literatura e psicanálise
Entregar-se às garras do desejo
Nós vivemos numa sociedade — estudos apontam, pelo menos
Coleciono; logo, existo
Carta para a amizade que perdi
Como o silêncio soa na página
Todo mundo quer fazer um livro importante e isso é um problema
Uma padaria muito gostosa que conheci aqui em São Paulo
E uma festa junina que eu quero ir <3
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
ah, vamos na padaria? queria saber mais sobre o curso de formas breves tb 🤓
Adoro os seus textos e a curadoria de outros textos tão bem feita! Muito obrigado por compartilhar com a gente ☺️