#249 Queria ser grande, mas desisti
sobre acompanhar um escritor enquanto ele se forma e experimenta
Ilustração de capa: Jesús Cisneros
Quando comecei a investigar temas que pudessem render uma pesquisa de mestrado, fiz uma lista com os nomes de autores que me deixavam em estado de obsessão. Eram seis ou sete, mas depois de pensar o que me levava até eles, o que poderia surgir a partir deles, reduzi a seleção para dois: Sally Rooney e Alejandro Zambra. Eles contemplavam um critério elementar: o desejo de estudar escritores que compartilhassem comigo o tempo neste mundo, que estivessem escrevendo e publicando agora. Como vocês sabem, no corte final, quem levou a melhor foi ela — graças ao fascínio que tenho pela literatura irlandesa e pelos questionamentos sobre uma geração em crise. Mas não me esqueço de que, numa dimensão paralela, a pesquisa poderia ser sobre ele.
O amor por Zambra tem a mesma idade do amor pelo homem que vim a chamar de marido. São doze anos juntos. Zambra e eu. Leandro e eu. Li Bonsai em 2012, do começo ao fim, numa poltrona da finada Livraria Cultura enquanto esperava Leandro bater o ponto num plantão de sábado. Engolir um livro desse jeito não é comum na minha experiência como leitora. Por isso, tomei nota do ocorrido. Tinha algo ali. E esse algo se repetiu em todo lançamento dele no Brasil. A última vez foi em 2021, com Poeta Chileno — e se renova agora com Literatura infantil, que sai este mês, de novo com a tradução de Miguel Del Castilho. A ansiedade só não está nas tampas porque já comecei a ler o arquivo digital enviado como cortesia pela Companhia das Letras. E o que me vem à mente a cada página é: que alegria acompanhar um autor enquanto testa assuntos e formatos, enquanto revê questões que circulam sua obra.
O Zambra de hoje é pai recém-nascido e registra os primeiros dias com o menino. Faz apontamentos engraçados, frescos. E retoma com delicadeza o que chama de padrastidade:
Os padrastos começam perdendo a estrondosa batalha da legitimidade. Mas de repente alguém vai e diz: “Meu padrasto foi meu verdadeiro pai”. Eu quero escutar essas histórias. Talvez todos nós, pais, sejamos no fundo padrastos de nossos filhos. A biologia nos assegura um lugar em sua vida, mesmo assim ansiamos que eles nos escolham como pais. Que algum dia digam esta frase, tão maravilhosamente incomum: meu pai foi meu verdadeiro pai.
— Literatura infantil, de Alejandro Zambra e tradução de Miguel Del Castilho
Em outro trecho, Zambra conta ao filho a história de quando, para tratar uma enxaqueca crônica, exagerou na dose de chocolate com cogumelos. Ri tanto da descrição dos efeitos que precisei me esconder no banheiro para não acordar Leandro durante a madrugada. Sério.
Quantas vezes você gargalhou assim diante de um livro? É um feito raro. É mais fácil chorar do que rir. Mas Zambra de algum jeito dá conta dos dois. Sigo lendo e me encantando. Volto quando terminar. Aposto que o desfecho será o de sempre. Afinal, é uma relação bem longa essa que temos.
Alejandro Zambra estará no Festival Serrote no sábado e na Megafauna na segunda-feira <3
Tudo é performance
Mania de otimizar tudo
Suas definições de pessoa adulta foram atualizadas
Escritos de Regina, a mulher que poderia ter sido
Este poema <3
A alegria que tem me dado escutar a terceira temporada do podcast Vinte mil léguas
Reflexões sobre o turismo excessivo
Gostei bastante desta análise, em inglês, sobre como os jovens têm demonstrado interesse na leitura de jornais ~de papel — spoiler: é mais uma tendência do TikTok
Semana passada, enviei para os apoiadores o vídeo-relato dos meus dias em Oxford, Dublin e Londres \o/ Com direito à pilha de livros que trouxe na mala
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Esse trecho que você destacou do livro do Zambra me tocou muito! Muito obrigado!
Que dica incrível! Anotei e já quero conferir! :)