Ilustração de Victoria Fernández
Tenho um tesouro em forma de bracelete. Uma meia-lua de prata com a inscrição sempre forte, sempre à frente. O autor da frase? Meu marido, testemunha diária da postura com a qual levo a vida nos últimos anos: em eterno estado de alerta. É resultado da maternidade, do jornalismo, da rotina insana numa cidade como São Paulo. Estou sempre a um centímetro do celular, pronta para que demandem algo de mim, a postos para resolver qualquer pepino. Todo tempo de descanso é feito com cautela. O sono é leve, entrecortado. Ouvidos atentos para um chamado de mãe!. Me canso fisicamente, mas me canso ainda mais do gosto que fica na boca, da sensação de corrente elétrica percorrendo o corpo. Não é preciso estar sempre atenta. Não é. Joca já está numa idade que permite distrações da minha parte. E o trabalho já é um velho conhecido, sei como abordá-lo sem maiores sustos. É, então, tempo de não ser a primeira a atender o telefone, de não ter as respostas certas, os melhores contatos ou os conselhos mais bacanas. É hora de me distrair. De ir ao cinema no meio da tarde, sozinha, com as notificações silenciadas. Hora de me sentir na contramão do mundo lá fora. A galera ralando e eu sentada numa sala às moscas, iluminada por histórias que me levam para longe de mim. É hora de ser arrebatada por imagens surrealistas, por uma Emma Stone com cérebro de bebê, descobrindo o que é virar mulher diante de cobranças absurdas e sem lógica. De terminar o filme e me permitir não dar sentido a ele imediatamente, de não saber com o que comparar. Estranho, diferente. Viciante. E aí, amarradona, seguir para a redação — agora do outro lado do balcão: eles descansam e eu trabalho. Tudo certo. Estou preenchida de vida e não de posse de uma lista de incêndios apagados.
A
escreveu sobre o tempo de digestão das coisas, sobre a diferença entre ver um filme no cinema e no streamingPobres criaturas me conquistou para caramba — imprimi os pôsteres do filme, estou atrás de todos os vídeos com entrevistas dos atores e do diretor, e tenho ouvido a trilha sonora sem parar (um oferecimento da Carola Rodrigues, lá no grupo dos apoiadores de
— conhecido também como melhor grupo que existe)Adorei a análise que a Isabela Boscov fez sobre o filme ;)
As próximas sessões de cinema devem ser A zona de interesse e O menino e a garça
Coisa linda esse curso gratuito da Seiva com o processo criativo de Lourenço Mutarelli
O vídeo desta semana da Fran Meneses — sempre uma inspiração para mim
Odeio escrever, mas adoro ter escrito
O magnetismo de tudo que não aconteceu
A história de quando comecei academia e descobri a alma humana — ri alto
Caderno de férias para o ano inteiro
As leituras do momento:
- Os detetives selvagens, de Roberto Bolaño e traduzido por Eduardo Brandão
- Os vestígios do dia, de Kazuo Ishiguro e traduzido por José Rubens Siqueira
Na última edição para os apoiadores, enviei um vídeo contando da obsessão recente por Bolaño e também bati um papo sobre como essas paixões literárias podem ser um caminho para construir um projeto de pesquisa \o/
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Oi! Espero que esteja tudo bem por aí ❤️
Me identifiquei um tantão com teu texto: também sou essa pessoa. Há pouco mais de duas horas saí de uma reunião na qual preciso ficar algumas horas sem celular. É sempre surpreendente perceber que o mundo não acabou quando retorno ao WhatsApp.
Abraços!!
Alô e saravá desde Portugal