Ilustração de Rosalyn Yoon
Eu ia começar este texto dizendo que tinha uma confissão a fazer. Como se fosse algo ruim ou que causasse vergonha. E na verdade não é. Não tem nada demais e aposto que um monte de mulheres da minha idade vai balançar a cabeça em reconhecimento. Então, lá vai: sou viciada em filmes e séries para adolescentes. A última madrugada é um bom exemplo — eu no sofá, comendo moedinhas de chocolate da pior qualidade e assistindo ao último lançamento do gênero que entrou no catálogo da Netflix, Você não tá convidada para o meu bat mitzvá. Uma delícia, recomendo. Pena que não posso dizer o mesmo da série-sensação O verão que mudou a minha vida. Gostei dos primeiros capítulos, mas o sentimento logo foi substituído por aflição. É um tal de beija um irmão, beija outro irmão. Sei lá, adoro um triângulo amoroso, mas no máximo entre amigos, sabe? Drama de amor em família é um negócio complicado. Ainda assim, vi as duas temporadas num intervalo de poucos dias e isso me fez pensar: por que eu — uma adulta na reta final dos 30 anos — retorno para histórias como essas com tanta frequência? Reviver tal fase da vida parece a explicação óbvia. Mas reviver a partir de um ponto maduro, mais gentil com as escolhas erradas que fiz. Por isso, tenho apreço por protagonistas cheias de falhas. Devi da série Eu nunca, Christine de Lady Bird, Maeve de Sex Education. Elas têm pedaços de quem eu fui, dos medos que tinha. Dos desejos, da intensidade. E é dessa última parte que eu mais sinto falta, da vida vivida ao máximo, de quando parecia que nada importava além daquela festa, daquela viagem, daquela pessoa. Os anos avançam e pedem comedimento. Equilíbrio. Que se coloque tudo em perspectiva. Nenhum acontecimento é o fim do mundo… e nem a coisa mais maravilhosa que já existiu. É um viver no meio até que uma rasteira me derrube — e ai de mim se eu não levantar logo. Não há tempo para isso. Para correr até uma amiga e ficar horas destrinchando cada frase, cada cena que formei na cabeça e só na minha cabeça. Ninguém tem espaço para isso. E é triste que seja assim. Que as conversas que ocupavam minhas tardes agora ocupem meu whatsapp. Fico feliz que ainda existam, é claro, mas são apenas sombras de uma convivência que não existe pra valer. É para isso que eu queria retornar quando vejo esses filmes e séries — para um tempo em que eu nada sabia, mas em que tudo era construído. Eu era construída, formada. Agora, esperam que eu esteja quase pronta, com aparas a serem feitas na carreira ou na maternidade. Mas eu não me sinto pronta.
Nem perto disso,
nem mesmo um pouco,
de jeito nenhum.
Eu ainda não sou uma pessoa de verdade — texto da Isa Sinay com um tanto de Frances Ha, Lady Bird e Barbie
Trabalhar pra ter problema de gente privilegiada
A sorte de fazer o que se quer
Eu não sou daqui
A beleza das coisas que passam
Um romance italiano, um avô e uma aventura
Uma lista de 21 pequenos grandes aprendizados da vida
conta da experiência num bar de audição <3Motivos que me fizeram começar a chorar
Não sou ninguém quando escrevo — uma entrevista em vídeo com Annie Ernaux
Semana passada, os apoiadores receberam um vídeo com o relato de como o mestrado mudou a forma como eu leio e escrevo. Falei principalmente de dois elementos da narrativa: o tempo e o espaço.
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Olha, eu fico impressionada com a sincronicidade de pensamentos que rolam nesta comunidade. Ontem à noite eu comecei a rascunhar um texto falando sobre a saudade que eu tenho do meu tempo livre, de qualidade. Penso ter muito a ver com a adolescência e a vida de um adulto jovem, sem filhos e tantas outras pressões que a idade vai trazendo. Pq é verdade! A idade traz mesmo efeitos colaterais, principalmente físicos que tomam o nosso tempo. Uma vez tive um namoradinho que me falou uma coisa que nunca mais esqueci: que nós dois não tínhamos nos adulterados. Ele usou a palavra "adulterar" para falar que não viramos adultos práticos, metódicos e cheios de manias, como a vida acaba impondo. Eu achei fantástico isso. Guardei no coração.
Nossa, super me identifiquei com o texto! Esse é o momento em casa que eu e o meu marido perdemos todas as nossas afinidades. Então eu me recolho para o quarto com o computador no colo para voltar no tempo e o deixo com suas aventuras esportivas na telona da sala. Penso até que, no fim das contas, eu fugir para o quarto para assistir tais filmes numa tela pequena mostra o quanto eu deixo meu mundo bem pequeno para abraça-los. A sensação é sempre boa depois. Como disse a Jane Fonda "Quem sofre são os jovens". E como ela tem razão. :)
Obrigada pela menção <3