Ilustração de Naomi Wilkinson
Pela manhã, nada de estranho no quarto. Cama, armário e estante. À noite tudo mudava. A imagem da santa sobre a penteadeira deixava de ser uma senhora sorridente. Virava uma sombra sem forma, com olhos iluminados. Brilho fraco, mas constante. Implorando por atenção. Eu tentava ignorar, me distrair com os sons da rua, mas segundos depois já estava hipnotizada novamente. E quanto mais me entregava, mais os olhos cresciam, se aproximavam. Quando parecia que iam me tocar, eu lembrava da presença da minha irmã, na cama ao lado, e a agarrava com toda a força. De novo a santa? Sim, veio bem pertinho. O abajur então acendia e ela pedia para eu olhar para o rosto da senhora e não esquecer que os olhos eram apenas bolinhas de tinta branca numa porcelana qualquer. Eram mesmo? Só acreditei quando quebrei a imagem em pequenos pedaços e raspei com a unha os cacos onde antes ficavam os olhos. Um pó branco polvilhou o chão. Juntei tudo na ponta dos dedos e lambi.
***
Esse texto foi uma tentativa de apreender as sensações estranhas que inundam a infância. Escrevi com um pé na realidade e outro na extrapolação. E gostei muito do exercício — que é um dos últimos da oficina conduzida pela Leda Cartum, na Escrevedeira. Já estou saudosa. Aprendi pra caramba e comprovei a importância de ter um compromisso frequente com a escrita, além dos benefícios de ler os textos em voz alta e receber os comentários carinhosos dos colegas. Dá vergonha e um medinho no começo? Com certeza, mas é um risco que vale a pena.
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E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
Lembrei de uma imagem de Cristo no quarto de meus pais que ficava me olhando de cima do guarda-roupas. Sempre foi a presença de mais alguém no quarto. Sempre me deu medo. E até hoje não quebrou.
(senti o gosto da tinta, do pozinho lambido da ponta dos dedos. ADORO quando ler me provoca assim!)