Ilustração: Yelena Bryksenkova
Modos de escrita. Tenho tantos. Quando vestida de jornalista, as palavras contam como tempo. E normalmente tenho pouquíssimo disponível. Três minutos, por exemplo, é considerado muito - ainda que o texto não ocupe mais do que duas páginas. É um tal de equilibrar o que preciso contar, o que os entrevistados disseram e as imagens que tenho. E como editora, ainda escrevo de outro modo: o modo dos outros. Lanço mão de termos que fazem parte do repertório de mentes que não a minha. Porque, ainda que coloque muito de mim, entendo que o trabalho em TV é trazer luz a voz de repórteres, de apresentadores. A minha voz pra valer aparece neste espaço aqui. Meio em que posso me desfazer de regras e escrever apenas sobre o que me interessa, no formato que me agradar. Não tem pauta a ser seguida, nada aqui tem a obrigação de ser relevante, útil. Falo do que me move, do que me angustia - e me encanto com as conexões que esse modo vulnerável me traz.
Adaptada que estou em navegar entre esses dois gêneros, não tem sido fácil acrescentar mais um: a escrita acadêmica. Temida. Classificada de fria, de indigesta. Concordo em parte. Há, sim, artigos difíceis, mas tenho descoberto textos brilhantes, pesquisadoras que se colocam de forma apaixonada e, portanto, cativante. Minha mira está travada nelas. Meu plano é aproveitar ao máximo a oportunidade de mergulho que o mestrado proporciona. O tempo de coleta de ideias, de maturação de conceitos, é absurdamente mais extenso do que estou acostumada. Já sofri com isso, de não ver o produto finalizado logo, mas agora entendo que estou com os pés numa escrita que exige outro ritmo. Lento, cuidadoso, desafiador e, ainda assim, gratificante.
Foi-se o tempo em que as pesquisas ficavam restritas a artigos em revistas ou ao banco de teses das universidades. Tem muita coisa boa sendo publicada e talvez você nem tenha notado que nasceram primeiro de um projeto de mestrado ou doutorado:
- Elena Ferrante: uma longa experiência de ausência, de Fabiane Secches
- Romance: história de uma ideia, Julián Fuks
- Você não deve esquecer nada: memória e identidade na ficção de Philip Roth, de Isadora Sinay
Tá todo mundo tentando fazer newsletter — sobre o boom deste meio que tanto gosto <3
Quantos quilômetros percorremos com o dedo que rola o feed eternamente?
Só faz a sua parada — Aline Valek sempre sábia:
Trocamos imaginação por eficiência. Eficiência para engajar mais, para provar, com números, que você é boa no que faz, que chegou lá primeiro que os outros. Eficiência para entender um padrão, entrar nele e produzir algo que seja reconhecível como um exemplar bem-sucedido de seu gênero. E de que diversidade de padrões dispomos hoje! Só escolher o seu e tentar se encaixar. Pertencer, no fundo, acaba sendo o maior dos desejos. Muitas vezes, acaba sendo maior do que o desejo de criar.
Reprodução estética, trends e robotização
Um lançamento que estou de olho: Manifesto sobre nunca desistir, de Bernardine Evaristo
Dicas para autores que querem publicar livro por editoras tradicionais
E na segunda sai a EDIÇÃO ESPECIAL PARA ASSINANTES \o/ Escrevi sobre ensaios maravilhosos que li este mês. Tão bons que chorei em um deles, sério.
Queria ser grande, mas desisti também é livro \o/
E se quiser me acompanhar em tempo nada real: @babibomangelo
E o tanto que eu amei essa edição? Me vi muito na sua jornada: o texto jornalístico, o autoral e a nova voz que se constrói, aos poucos, acadêmica. tenho a mesma preocupação que você - e olho os textos de quem me inspira como um mapa de um novo território. Amei!