Coleto motivações de escrita.
Procuro saber por qual razão meus escritores favoritos dedicavam tanto tempo e esforço para colocar no papel os incômodos, os planos, a arquitetura de um mundo imaginário.
Escrever é ato romantizado. Vem à mente a imagem da escrivaninha, da xícara de café, da pilha de livros e textos que se amontoam ao lado do teclado, do caderno. É assim, mas também não é. Criar pode ser duro, perturbador. É atividade que serve de escape para ideias obsessivas, para sentimentos que precisam de maturação, de entendimento.
Na última aula de um curso sobre Virginia Woolf, ouvi o trecho abaixo e me identifiquei de imediato. A necessidade de explicar os choques. Faço a digestão da vida a partir de frases e parágrafos que inundam meus pensamentos imediatamente após certos acontecimentos. Um hábito de transformar em narrativa a própria experiência. E, assim, apreendê-la pra valer.
[…] imagino que a capacidade de receber choque é o que me faz escrever. Arrisco a explicação de que o choque, no meu caso, vem imediatamente acompanhado pelo desejo de explicá-lo. Sinto como se tivesse recebido um golpe; mas não se trata, como eu pensava quando criança, simplesmente do golpe de um inimigo escondido atrás do algodão do dia a dia; é ou se tornará uma revelação de alguma espécie; é um símbolo de algo real por detrás das aparências; e eu o torno real ao expressá-lo em palavras. Somente quando o expresso em palavras é que o transformo em algo inteiro; essa sua inteireza significa que ele perdeu o poder de me machucar; e sinto, talvez porque ao fazer isso eu extraia a dor, um enorme prazer em unir as partes desconectadas. Talvez esse seja o maior prazer que conheço. É o arrebatamento que tenho quando, ao escrever, sinto que descobri o que se junta ao quê; faço uma cena sair certa; um personagem aparecer. Isso me remete ao que eu poderia chamar de uma filosofia; de todo modo, é uma ideia constante minha; de que por trás do algodão existe um padrão escondido; de que nós - quero dizer, todos os seres humanos estamos conectados a ele; que o mundo inteiro é uma obra de arte; que fazemos parte dessa obra de arte. Hamlet ou um quarteto de Beethoven é a verdade sobre essa vasta massa a que chamamos de mundo. Mas não existe nenhum Shakespeare; não existe nenhum Beethoven; certamente, enfaticamente, não existe nenhum Deus; nós somos as palavras; nós somos a música; nós somos a coisa em si. E isso é o que eu vejo ao tomar esse choque. — Um esboço do passado, Virginia Woolf (p. 26 e 27)
Gosto muito do site Como eu escrevo, que compila a rotina de escritores contemporâneos. Tem, por exemplo, Aline Bei, Aline Valek e Jarid Arraes
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