Ilustração de Scott Jessop
Dos muitos livros que já não tenho mais, um em específico me assombrou por anos. Não porque me arrependi de doar ou emprestar, mas, sim, por tê-lo perdido poucos minutos depois de ganhar como presente. Pois é. Num dos meus aniversários de vinte e tantos anos, recebi numa embalagem linda o primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. Ele, assim como eu, nasceu no dia 10 de julho. Talvez meu amigo não soubesse disso ao escolher o título, mas a informação serviu como mais um motivo de angústia quando me dei conta de que tinha deixado a sacola pendurada no braço da cadeira do restaurante onde almoçamos naquela tarde. Fiz o que deu para tentar recuperar, só que alguém foi mais rápido e hoje detém o começo da grande obra de Proust a salvo em sua casa. Eu espero.
Durante quase uma década, pensei no livro com frequência. Cogitei comprar uma nova edição, é claro, mas diversos motivos me impediram. O preço, a incerteza se aquela era a tradução mais bacana, o medo de não gostar, de não entender, de não estar pronta. Deixou de ser um feito literário e se tornou algo como uma quimera. Um monstro mitológico inatingível, no entanto sempre à vista para me instigar.
Quem gosta de literatura, sabe que é difícil não esbarrar em comentários sobre a escrita de Proust. E não só em textos. Filmes, séries, podcasts, conversas aleatórias numa redação lotada de jornalistas. Um autor que é também um adjetivo: “que coisa mais proustiana!”. E assim, de um jeito ou de outro, sempre tangenciei este francês.
O ato de passar perto, roçar, nunca encostar, só foi interrompido hoje: o dia em que abri o pacote que chegou dos Correios trazendo No caminho de Swann. O que me deu coragem foi o ótimo Romance, história de uma ideia, de Julián Fuks. Ao aproximar Proust de autores que tanto admiro, como Joyce e Virginia Woolf - que buscaram novas formas de narrar; de encarar o gênero romance; de repensar o tempo, a consciência -, Fuks tornou impossível que eu sustentasse a distância.
Então, aqui estou com Proust em minhas mãos. Mais ou menos pronta para romper com o mito que criei.
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Nunca tive coragem de ler, imagina? Acho que fui adiando e acreditando no tanto que era difícil, que virou aquele monstro que alimentei baseada em nada. Vou deixar de besteira e tentar, ó. Amo livros que nos deixam com vontade de outros livros ♥️
E brigaaaaada pela indicação sempre com tanto carinhoooo
Eu também tenho esse monolito que me assombra… li o primeiro volume em 2008, mas desisti depois. Na hora certa, quero reler e encarar a obra toda!