Ilustração: Emma Fraser
E se tudo der certo?
Começar um texto com esta frase em 2022 parece loucura, um surto de otimismo. O novo ano veio e trouxe junto uma marreta para quebrar parte das boas expectativas dos primeiros meses. Aumento de infecções, carnaval cancelado. E para além da dor coletiva, rola sempre uma angústia pessoal, relacionada com a pandemia ou com a vida normal mesmo. Eu, por exemplo, tenho uma tendência péssima de sempre me preparar para o pior. Poderia disfarçar e dizer que se trata de manter um pé na realidade, mas é mais sombrio do que isso. Eu crio cenários apocalípticos completos. E eles são disparados por eventos banais. Leandro sai para andar de moto? Logo vem à mente um enredo bizarro do que pode acontecer e como eu reagiria à situação. Coisas envolvendo meu filho, então... praticamente um filme de horror. Tem aí uma pontinha de trauma. Meu pai morreu de repente, dormindo. Não quero ser pega de surpresa de novo. E daí criei esse mecanismo de treino de tragédias para ter a falsa sensação de controle. Uma forma de dizer: não, nada vai me derrubar porque eu já tracei todos os desfechos. Eu sei, eu sei, nada disso adianta. Além de exaustivo, não vai impedir que eu sinta dor caso algum pensamento maluco vire realidade. Eu sei, mas sigo me enganando. Ou pelo menos seguia. Esta semana, li algo que bateu de um jeito diferente. Esbarrei no comentário de uma mulher que sente o mesmo e a dica dela é o mantra lá de cima: e se tudo der certo? E se, em vez de pensar em possibilidades terríveis, eu fantasiar com resultados felizes? E se na hora em que o Joaquim pegar a estrada com os avós eu pensar na diversão que vem pela frente? E se quando meu telefone tocar for uma notícia bacana? E se todos os meus planos de escrita e estudo vingarem? E se minha família permanecer saudável por muito tempo?
Em tradução livre:
“Brené Brown fala sobre o 'ensaio de tragédia' e de como isso nos tira a alegria. Assim que me dei conta disso, percebi que minha ansiedade roubava a alegria do tempo com meus filhos. Eu pensava: 'eu a amo tanto, eu ficaria perdida se alguma coisa acontecesse com ela', ou eu diria, 'cuidado nesse galho ou você vai quebrar seu braço'. Eu aprendi, então, a transformar os 'e se'. E se ela crescer saudável e confiante e continuarmos amigas a vida toda? E se ela não cair e sentir uma incrível sensação de realização ao subir naquela árvore?”
O comentário que tanto me ajudou é de uma leitora do Cup of Jo - um dos meus sites favoritos da vida <3
Numa tentativa de fazer o ano engatar de vez, me dei de presente uma das oficinas de escrita da Tayná Saez - e que acerto! Fiz a de microcontos, mas vai rolar outra bem bacana agora em fevereiro: escritas de mim
E em março começa um dos cursos mais legais de literatura contemporânea: Lendo o nosso tempo
Virginia Woolf, leitura e transitoriedade
Adorei esta reflexão da Tatianne Dantas sobre poetas com estilos parecidos, como Ana C. e Matilde Campilho
Histórias em quadrinhos para entender o mundo
Lançamentos que estou de olho:
O acontecimento, de Annie Ernaux
Por que escrever?, de Philip Roth
O que jogos como Wordle e Termo têm a ver com anticapitalismo e com arte contemporânea
Quando o autocuidado - e outros conceitos do tipo - viram um discurso opressor
Essa edição mexeu muito comigo! Desde que virei mãe, faço cenários horríveis e bato na madeira, repetindo esse ciclo sem parar. Vou adotar o “e se der certo?”!
nossa, conversou tanto comigo! lembrei desse vídeo da Jout Jout <3 https://www.youtube.com/watch?v=PEm_6odIA-M