#174 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Sarah Mazzetti
Tem um monte de listas de melhores livros circulando por aí, mas não tenho o menor pudor de aparecer com mais uma. E espero que você tope embarcar nessa retrospectiva comigo.
2021 foi o ano em que me dediquei pra valer à literatura. Li mais do que em qualquer outro momento e passei praticamente os doze meses trabalhando num projeto de pesquisa para entrar no mestrado em Letras. Estou bem empolgada para começar as aulas em 2022 e ver os estudos tomarem forma.
Afinal, foram os livros que me mantiveram minimamente sã durante os dois anos de pandemia. Um escape em meio às infinitas horas de trabalho noticiando fatos terríveis. Algumas páginas todas as madrugadas e o sono vinha melhor. O prazer de espiar vidas que nada têm a ver com a minha, mas que de um jeito ou de outro sempre se aproximam de mim.
Eis, então, os 10 favoritos do ano. O critério? Sentimento puro: o quanto o livro mexeu comigo. E aí pode ser tanto pela linguagem, técnica, enredo ou algum episódio histórico que eu desconhecia e adorei saber.
Poeta chileno, Alejandro Zambra
Miguel Del Castillo, tradutor do romance, disse que a escrita de Zambra tem uma voz baixa, sem alardes, mas ainda assim traz reflexões profundas. Não poderia concordar mais. Poeta chileno virou o meu preferido do autor.
Léxico familiar, Natalia Ginzburg
A-D-O-R-O ler sobre famílias e esta aqui, a da Natalia, é especial. Pra valer. Acompanhamos desde a construção desse léxico entre pais e filhos até os impactos da Segunda Guerra Mundial.
Ao farol, Virginia Woolf
Uma das últimas leituras do ano e das mais marcantes. Outra história de uma família marcada pela guerra, mas desta a vez pela primeira grande guerra. Tudo tratado de forma extremamente sutil e delicada. Uma delícia acompanhar a engenhosidade da autora.
Tetralogia napolitana, Elena Ferrante
O que falar desta série que não tenham dito ainda? Pode perguntar para qualquer pessoa que tenha lido os quatros livros: é uma leitura transformadora. Pensei em tantas relações complexas da minha vida. Com certeza farei uma nova incursão pela história.
Correntes, Olga Tokarczuk
Livro diferentão. Comecei sem entender se era um romance, uma espécie de caderno de ideias ou um conjunto de ensaios e notas sobre viagens e estranhezas. Essa tal necessidade de definir as coisas. Fato é que gostei demais e, meses depois de terminar, sigo pensando em alguns episódios.
Escute as feras, Nastassja Martin
Uau, como esse livro mexeu comigo. É o relato de uma antropóloga que foi mordida na cabeça por um urso. Poderia ser uma história “apenas” sobre trauma, mas vai muito além.
Poemas, Wislawa Szymborska
Abri meu coração para a poesia graças a Wislawa <3 Gosto de TODOS os poemas que encontrei nessas páginas.
Belo mundo, onde você está, Sally Rooney
Surpresa para zero pessoas. Sally Rooney é das minhas autoras contemporâneas favoritas, tanto que vou estudá-la no mestrado. O novo romance não é o que eu mais gosto, mas ainda assim achei bem bacana - principalmente a troca de e-mails entre as protagonistas.
A palavra que resta, Stenio Gardel
Que escrita gostosa, que história tocante. Um homem que aprende a ler aos 71 anos para conseguir decifrar uma carta de amor. Vale MUITO.
Pachinko, Min Jin Lee
Primeira leitura de 2021 - resistiu bravamente entre os 10 melhores do ano. Uma saga familiar envolvendo os abusos sofridos pelos imigrantes coreanos no Japão.
Para facilitar, juntei todos os livros nesta listinha aqui
Os melhores segundo Obama
E mais uma lista do New York Times - agora compilada pelos críticos do jornal
A importância de bell hooks por Djamila Ribeiro
Um Ulysses muito louco
A editora Claraboia está recebendo originais de mulheres escritoras
O direito à literatura - aula aberta com Débora Tavares e Daniel Puglia
E a nova edição da Elle?! Capas maravilhosas, como sempre
A vista de São Paulo <3
Eu nasci para ser pai - texto poderoso de Milly Lacombe
“Deve haver muitas mulheres como eu, que seriam ótimas tutoras de outros seres humanos, mas para as quais o contrato da maternidade não interessa por ser também perverso, injusto, solitário e esgotante”
O que é realismo capitalista