Ilustração: Big sur books
Ali na bio, na primeira coisa que as pessoas encaram ao olhar o meu perfil no Instagram, está a palavra JORNALISTA. É também o termo que vem antes de todos os outros quando me apresento em situações formais. Oi, eu me chamo Bárbara, sou jornalista e atualmente editora de política. Frase decoradíssima. Tudo bem. Eu sou isso mesmo. SOU. Sou? Um dos significados de ser [verbo] é identidade. Jornalismo é uma prática, uma profissão, mas em algum momento virou também parte da minha personalidade, uma lente particular através da qual eu vejo o mundo. Lindo, bacana. Jornalismo tem mesmo uma carga romântica, um senso de prestação de serviço, uma missão. Mas para além dessas definições, o jornalismo é trabalho. E por várias vezes, perdi isso de vista. Deixei tudo se misturar. Carreira e identidade. Logo eu que faço questão de dizer que o trabalho não deve ocupar todos os espaços, que grande parte da satisfação pessoal está lá fora. Mas, né, é isso que o neoliberalismo faz com a gente. Produzir, produzir, produzir. E se você não produz, você não é nada. Se você não tem um título com o qual se apresentar, quem é você para a sociedade? Dessa lógica surgem frustrações paralisantes. Devo encarar o trabalho só como forma de ganhar grana? Não! Disseram que o caminho para a felicidade é encontrar uma vaga em algo que eu ame. E o que eu amo? Será que trabalhar com coisas que eu curto não vai melar tudo de uma vez? Pois é. Ninguém tem a resposta. Vira e mexe surge uma nova promessa de salvação, mas logo vemos que é balela. Trabalho remoto, freelancer, sem nenhuma amarra. Liberdade que rapidinho mostra a cara da precarização.
Lendo o livro Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Helen Petersen, grifei um trecho que define bem as queixas - não só minhas, mas de tantos e tantos amigos (oi, Mica! oi, Dida!) com quem converso a respeito:
[...] convencem trabalhadores - e millennials em particular, que não tiveram outras experiências no mercado de trabalho - de que, se as coisas parecem estar uma merda, a culpa é toda deles. Talvez você seja preguiçoso. Talvez você devesse trabalhar mais. Talvez o trabalho seja enfadonho para todos. Talvez todo mundo se contente com isso. Claro, seu melhor amigo está sofrendo, sua irmã está sofrendo, seus colegas estão sofrendo, mas essas coisas são apenas evidências anedóticas contra a narrativa maior de que tudo está ótimo.
Para não terminar em tom de desesperança, deixo aqui uma lista do que tem me ajudado no exercício de colocar o trabalho em seu devido lugar:
análise;
procurar realizações fora do trabalho e que não tenham necessariamente um objetivo financeiro (ex: cursos de bordado, clubes de livros, estudos de assuntos aleatórios);
conversar, questionar, praguejar com os amigos <3
Mais uma provocação (em inglês) da Anne Helen Petersen: quem você seria se o trabalho não fosse mais o eixo da sua vida?
Como era a vida antes da internet? O catálogo das 100 coisas que perdemos
O meu professor preferido da faculdade está com um clube de leitura gratuito e cheio de convidados especiais
O escritor George Saunders lançou uma newsletter (em inglês) que vai funcionar como aulas de escrita - achei a primeira edição bem bacana \o/
Saiu o primeiro episódio da série Enciclopédia Negra
Ana Martins Marques e Alejandro Zambra na Flip - delícia de conversa
Mais uma lista de melhores livros de 2021
Para quem adora uma fofoca do mundo literário, o Lit Hub vem compilando os melhores babados do ano (em inglês)
Livros para começar e terminar antes do final do ano
E dicas de livros para dar de presente - listinha feita por mim com muito carinho ;)
Sobre a necessidade de escapar dos filhos e aí retornar
Vídeo que alegrou minha semana - dica da amiga Ana castro <3
Primavera Sound em São Paulo em outubro e novembro de 2022 - pós-eleição e, quem sabe, pós-pandemia (dedos cruzados)
Comecei a ver Get Back e este guia me ajudou bastante a entender a primeira parte do documentário
Empolgadíssima para o lançamento da série Estação Onze, na HBO Max. Li o livro faz alguns anos e amei. É sobre um vírus que mata boa parte da população mundial. Pois é =O
Lendo: Esboço, de Rachel Cusk - gostando BASTANTE
*Alguns links desta edição vieram a partir de dicas de leitores que prontamente compartilharam comigo as fontes de textos mais bacanas desta internet. Obrigada a todos <3
Me vi tanto nesta edição! Amei