Percorri as últimas frases de Ao farol debaixo do teto da casa onde minha família passa os finais de semana, no interior de São Paulo. E talvez por isso a impressão deixada pelo romance tenha sido tão forte. Virginia escreveu inspirada pela ilha que visitou por temporadas durante a juventude. E a partir dali, desse lugar-símbolo, contou a história dos complexos laços que estabelecemos na vida. Relações expostas para o leitor através dos pensamentos íntimos de cada personagem. Como se fossem confidências. Pega-se uma peça ali, outra aqui, e forma-se um retrato, sempre instável, dos Ramsay. Uma mãe carinhosa e magnética - e, na mesma medida, misteriosa. Um pai inteligente, autoritário, ausente em meio ao próprio ego. Muitos irmãos, mais próximos ou mais distantes da influência dos pais. É um jogo de impressões, uma disputa de versões — “a metade das ideias que fazíamos das outras pessoas era, afinal, grotesca. Elas serviam aos propósitos particulares de cada um”.
E tem também a casa. Uma observadora do tempo, das mortes, das transformações. A segunda parte do livro justamente intitulada de O tempo passa é uma das coisas mais lindas que já li. Tanto pela descrição do que foi deixado para trás, como pelo uso que Virginia faz desta seção para conduzir a narrativa. É o elo que une um período cheio de expectativas ao momento dolorido em que muitas delas foram destruídas, reajustadas. O trecho tem um ritmo envolvente. E ritmo é uma palavra-chave pra Virginia. Numa carta transcrita no posfácio da edição que tenho aqui, a autora explica:
“O estilo é uma questão muito simples; é tudo ritmo. Uma vez que consiga isso, não há como usar as palavras erradas. Mas, por outro lado, aqui estou eu, sentada durante a metade da manhã, cheia de ideias e visões, e assim por diante, e não consigo colocá-las para fora por falta do ritmo certo. […] Uma vista, uma emoção criam essa onda na mente, muito antes de produzir palavras que combinem com ela; e ao escrever (é esta minha crença atual) temos de recapturá-la, e fazer com que funcione (algo que aparentemente não tem nada a ver com palavras), e então, à medida que irrompe e se revira na mente, produz palavras para combinar com ela.”
Em busca do ritmo perfeito <3
Li Ao farol com o grupo criado pela Mell Ferraz. Defenderei sempre o modelo de leituras conjuntas, ainda mais para livros que usam técnicas que podem ser desafiadoras, como o fluxo de consciência.
Outro livro que terminei estes dias foi As inseparáveis, de Simone de Beauvoir. Uma delícia! Rapidinho e envolvente ;)
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E gente, onde vocês têm lido coisas bacanas? Falo de reportagens fora do batidão do factual, crônicas, desabafos íntimos. Tudo que não seja um post rápido no Instagram. Ando sentindo falta de coisas assim. Muitas newsletters, sites e blogs que eu acompanhava sumiram :(
Alguns colegas publicam coletivamente no site www.soumasugestao.com.br
É bem diverso e tem textos muito bons. Também assino a newsletter Lambrequim da Tempôra Criativa, que sempre traz reflexos sobre o ato de escrever.
Minhas leituras têm sido basicamente de newsletter e posts de instagram. Se achar algumas novidades interessantes, compartilha com a gente =)