#164 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Juan Molinet
Faz um tempo, fui desafiada por uma leitora a fazer uma lista com livros leves, daqueles que não derrubam a gente no chão ou esmagam o peito. Tarefa complicada. Olhei para os meus registros e percebi que grande parte do que leio envolve algum tipo de desgraça. Morte, crime, separação, violência. Não sei explicar o motivo. E também não acontece apenas com os livros. Gosto de séries e filmes dramáticos. Ou melancólicos. Ou sombrios. Mad Men é um bom exemplo. Don Draper é um homem torturado e absurdamente falho. Revi todas as temporadas nos últimos meses e fui envolvida por uma aura pesada, quase sufocante. Cigarros, traições, machismo. Terminei os episódios amando ainda mais a série, mas desesperada por um ar fresco. E foi aí que esbarrei em Ted Lasso - recomendadíssima por amigos queridos. E Ted e Don não poderiam ser mais diferentes. Ted é um otimista que beira o brega, o insuportável, mas sem jamais ultrapassar esse limite. É tão solar e tão bem intencionado que amolece até os mais brutos. Achei de uma coragem imensa focar a história num protagonista assim - diante da predileção atual por personagens detestáveis ou de moral questionável. Boas pessoas também são interessantes, sabe? Se você está em busca de um respiro alegre, vai por mim, Ted Lasso é a solução. E hoje sai o último episódio da segunda temporada \o/
*E ponto extra para a música-tema assinada por Marcus Mumford. Tão bom quando uma paixão antiga encontra com a nova <3
Hoje tem novidade por aqui: a participação especial de Sarah Germano - pessoa bacanérrima que a internet trouxe para a minha vida. Ela é autora da newsletter Invasões Germânicas e ótima leitora, com um olhar sensível que transborda para as resenhas que escreve. Fiz três perguntas para ela, inspiradas na seção The books that made me, do Guardian. E eu respondi algumas perguntas na news da Sarah. Corre lá!
Qual foi o último livro que te fez chorar?
Eu não sou de chorar em livros ou até mesmo filmes, apesar de o sentimento de tristeza com certeza ficar represado no peito e muitas vezes extravasar em outras situações um tempo depois. Dito isso, Uma Vida Pequena, de Hanya Yanagihara, me fez chorar em posição fetal. Mas não me arrependo, é um dos livros mais lindos que já li nessa vida. Recomendo demais.
Qual livro que você sempre dá de presente para os amigos?
A ridícula ideia de nunca mais te ver, de Rosa Montero. Além de ser muito bem escrito, também é um dos melhores livros que já li, trata de dois assuntos universais e universalmente ignorados, a morte e o processo de luto. É definitivamente uma daquelas leituras que te transforma.
Tem algum livro que te intimida?
Sim, muitos! Vou citar apenas alguns que estão na minha listinha para serem lidos em breve: Ulysses, de James Joyce, Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e os volumes de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust.
Ted Lasso levou 4 Emmys
Aproveito para indicar Friday Night Lights, que também trata de futebol, mas neste caso é a versão americana ;) Uma das minhas séries preferidas da vida
Ensaio sobre Nick Hornby, a importância dos objetos culturais e a problemática de gostar “ironicamente” das coisas
Gosto muito da série de entrevistas A arte da ficção, da Paris Review. Eles constantemente relembram as melhores e esta semana foi a de Susan Sontag <3
Para marcar na agenda: aula aberta sobre literatura e sociedade
Sobre o novo livro de Victor Heringer - autor que nos deixou cedo demais
Lançamentos que estou de olho
Livros que geram boas conversas com crianças
Vulcões, burnout e pensamentos em chamas
Como cultivar magia em tempos de austeridade
Uma música para o final de semana <3