#150 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Cristiana Couceiro
Escrevo coisas que muitas vezes ainda não foram formuladas para amigos, para minha família. E aqui elas atingem principalmente pessoas que não conheço. E de alguma forma uma conexão se estabelece - me sinto acolhida, ouvida.
Em troca, recebo muito. Recebo mensagens igualmente íntimas. Tem quem me conte das angústias, da morte de alguém querido, de um amor há muito tempo frustrado. Fico honrada com a confiança depositada em mim. E sempre me pergunto: por que certos temas são mais fáceis de conversar com estranhos?
Lendo Pequena coreografia do adeus, novo livro da Aline Bei, estaquei no trecho abaixo. Júlia, a protagonista da história, tem muitos fios soltos na relação com os pais. Cicatrizes de um abandono constante. Quando se encontra com eles, já adulta, a conversa é difícil, ensaiada. Já com os clientes do café onde trabalha, o papo é natural. Existe mais espaço para mostrar afeto com quem ela só conhece superficialmente. Eis a explicação:
"(...) por que será que os estranhos sempre nos pesam menos?
talvez por serem terra desconhecida, é o que abre espaço para a nossa imaginação.
fulano deve ser ótimo, pensamos
e as respostas ficam em suspenso
amamos a possibilidade
de a pessoa ser exatamente aquilo que projetamos nela.
os estranhos não nos doem porque ainda nos decepcionaram
e se mantivermos tudo a uma boa distância: seguirão sendo
essa doce incógnita"Pequena coreografia do adeus, Aline Bei
Essa doce incógnita. O estranho é interessante porque ainda não nos decepcionou e também porque só conhece uma parte de nós. A parte que escolhemos mostrar, a narrativa que optamos por contar. E essa versão pode revelar mais de nós mesmos do que a face já habitual.
Finalizei a leitura de Pequena coreografia do adeus encantada com a escrita de Aline Bei. É uma poesia-prosa, prosa poética? Só sei que vale muito conhecer. Esta reportagem aqui conta um pouco da trajetória da autora, que usou uma tática de guerrilha para conseguir vender o primeiro livro
Sobre as mil habilidades digitais que agora são cobradas de todos nós
Desconteúdo na era do excesso
Eu não gosto de política... mas a "neutralidade" também é política, uma política de privilégios
Pequenas ações para um mundo melhor - ótimo episódio do podcast Projeto Piloto
Passaporte dos artistas
O morro dos ventos uivantes é o livro mais selvagem do século 19?
O que ler significa para você?
Uma torta para aquecer o coração
Recebeu a cartinha da semana, mas ainda não assina a newsletter? É só se cadastrar aqui. Também dá pra ler as edições antigas <3 E se quiser me acompanhar: @babibomangelo