#149 Queria ser grande, mas desisti
Arte: Monica Rohan
A idade avança e percebo o deslocamento das vaidades.
Até pouco tempo, a autoestima estava intimamente ligada ao corpo, à carcaça que apresento ao mundo. Era importante me sentir bonita, ser percebida como bonita. Dedicava um tempo considerável ao cabelo, queria domar as ondas indefinidas, o redemoinho que vive nas minhas têmporas. Depois passava à pele - cheia de manchas e pequenas cicatrizes. Dispunha de um arsenal de produtos para corrigir as falhas. Como se tivesse que pedir desculpas por não ser perfeita. Como se precisasse poupar os outros da visão terrível da imagem real.
Rotina do espelho, do esconde-esconde.
Por um tempo longo demais.
Veio a maternidade, um rearranjo das horas do dia, a reinvenção de outro eu. A estética deixou de ser fonte de satisfação imediata. Cuidar de mim, cuidar de verdade, não passava mais por um cabelo arrumado, um rosto pintado. Ver minha imagem ajeitadinha era bacana - ainda é - mas perdeu o lugar de linguagem essencial.
Sempre existiram outros aspectos. Qualidades que me aproximaram de amigos, de amores. Ligadas às emoções, ao intelecto. Coisas que eu sempre alimentei de uma forma ou de outra, mas não eram vistas como parte fundamental no processo de me sentir bem na minha própria pele. E não só por mim. O autocuidado se transformou numa prática de consumo diretamente ligada à beleza. Não está bem? Precisa de um tempo para si? Compre uma máscara facial, faça às unhas, aumente os itens do guarda-roupa.
Curar feridas passa por muito mais.
A minha vaidade, hoje, reside em perceber avanços na compreensão de assuntos complexos, em traduzir questões para quem tem dúvida, encontrar caminhos mais harmoniosos na equação trabalho-maternidade-casamento-projetos pessoais. Esbarra em ser percebida como alguém inteligente, criativa, carinhosa, divertida, apaixonada. Vaidades que apontam para dentro, para algo mais duradouro e confiável do que a aparência.
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