#148 Queria ser grande, mas desisti
Tem um tanto de gente por aí - inclusive eu - falando sobre os livros que leu, os novos títulos comprados, a lista de próximas leituras. Difícil é encontrar quem fale sobre os livros não lidos. Aqueles que nos encaram da estante, que nos intimidam. É esse o recorte do texto Lacunas, de Felipe Charbel, na Piauí.
Professor de História e escritor, Felipe poderia ostentar os autores que conhece, mas decidiu nos contar aquilo que ainda não descobriu. E aponta essas "falhas de formação" com carinho, como peças fundamentais na jornada de um leitor.
"Desconfio que as lacunas são o que existe de mais valioso na composição química de um leitor. Elas nos individualizam tanto ou mais que aquilo que absorvemos – as cenas, frases, tons e ritmos dos livros que amamos e que nos formaram. Lacunas são como janelas, vias de acesso ao que nem sempre compreendemos com clareza sobre as nossas escolhas literárias – por exemplo, os livros que retiramos da estante para pôr numa pilha sobre a cômoda e passam meses ou uma vida pegando poeira. Lacunas também são como rastros, vestígios: elas revelam implicâncias, deserções, interesses, caprichos, utopias. Leitores são formados de espaço vazio na mesma proporção que a Terra é em grande parte feita de ar, e a superfície em que ela se apoia é puro vácuo, o nada." __ Felipe Charbel
Ele categorizou suas lacunas em sete tipos e a que mais me identifiquei foi a "a lacuna como presente que nos ofertamos". Um espaço reservado para os livros especiais. Felipe menciona como exemplo justamente o livro que eu citaria: Guerra e Paz, de Tolstói. É um desejo antigo. Tenho uma edição lindona em casa, um box da Companhia das Letras. Quando vou chegar a ele? No momento perfeito, é claro. Quando eu tiver tempo para me dedicar como merece. Esse dia vai chegar? Ou eu preciso criá-lo?
Poderia elencar aqui um número infinito de livros que compõem minhas lacunas. Faço listas em cadernos, no bloco de notas do celular, numa planilha estruturada. Traço prioridades para não me perder no mar de opções. Mas sei que os livros não serão lidos naquela ordem. Ou não serão lidos de forma alguma. Ler depende de tempo, tempo finito, tempo dividido com tantas outras coisas.
No entanto, penso agora, qual seria a graça de riscar todos os itens da lista? Significaria não ter mais nada para ler, nenhuma história para desvendar. Deus me livre disso. Vou continuar alimentando minhas falhas literárias, aumentado o número de não lidos. Gostoso demais criar expectativas.
A ilustração de hoje é do livro I will judge you by your bookshelf, do cartunista Grant Snider
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Ótima conversa sobre Um quarto só seu, de Virginia Woolf - ensaio importantíssimo sobre as barreiras impostas às mulheres e que reverberam até hoje em nossa produção criativa
Falando em ensaios, fiz um vídeo explicando o gênero
Montei também uma listinha com livros que tratam de escrita e de vida acadêmica. Aproveitei para acrescentar as indicações que pintaram nos comentários neste link aqui ;) Lembrando que ao comprar qualquer item através do meu link da Amazon você contribui com o meu trabalho sem gastar nada a mais por isso ;)
Sobre a morte de Paulo Gustavo e o amor <3
O amor existe e é revolucionário
A vida é urgente
Estou lendo:
A história da menina perdida, de Elena Ferrante
A idiota, de Elif Batuman
Pequena coreografia do adeus, de Aline Bei
Vendo: as aulas atrasadas dos mil cursos que estou fazendo ¯\_(ツ)_/¯
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