#144 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Hanna Barczyk
O que nos cura é a narrativa, disse o psicanalista Paulo Schiller, em entrevista ao podcast Meu inconsciente coletivo. A frase ressoou por dias aqui dentro. E enquanto pensava nela, tropecei em outras reflexões sobre narrativa, como a entrevista na qual Elena Ferrante elabora de forma certeira a urgência de contar histórias, da gente e dos outros.
"As mulheres escrevem muito e, não tanto por profissão, mas por necessidade. Recorrem à escrita sobretudo em momentos de crise, e o fazem para se explicarem a si mesmas. Há muitas coisas de nós que não foram contadas até o fundo ou simplesmente não foram contadas."
trecho publicado em Frantumaglia
Colocar para fora, em palavras por escrito ou em sons na boca, é entender os incômodos, as ausências, os prazeres. É uma ferramenta de perspectiva, um jeito de entender os papéis que nos dispomos a ocupar. E também de perceber padrões e tendências a partir das dores daqueles que nos precederam.
É um hábito. Eu falo sobre mim em anotações espalhadas por cadernos, com amigos, na terapia. Falo ainda mais em conversas solitárias. Travo diálogos ao volante, durante o banho. E repito, reconto episódios. Faço perguntas como numa entrevista e parto para a resposta. Conclusões mutantes, imperfeitas. Inacabadas. Um quebra-cabeça particular, com peças faltando.
É um processo sem fim. Tanto sobre mim como sobre os que me cercam. Conforme envelheço, busco por mais histórias de família. Quero saber como minha mãe lidou com o início da maternidade, qual foi a última gota na relação com meu pai, quais desejos ficaram para trás. Entreguei a ela e a minha avó um caderno para que elas relatem o que não se deve esquecer. As narrativas delas contaminam e complementam a minha. E assim será com meu filho e com meus netos. Contos da alma.
Escrevendo poque alguém esqueceu de gritar
Curso bacana começando em abril: Como analisar narrativas, com a professora Débora Tavares, craque em George Orwell
Comecei uma série de posts com os livros favoritos das minhas pessoas favoritas
São Paulo vai ganhar uma livraria dedicada a escritoras mulheres
Lançamento nacional bastante elogiado: Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy
E um livro inédito de Simone de Beauvoir, As inseparáveis - uma boa pedida para que gostou de Amiga Genial, de Ferrante.
Três grandes autoras russas
Queria saber bordar assim
O privilégio de fazer uma coisa só
Que sonho de casa: muito espaço, livros e uma vista deslumbrante
Recebeu a cartinha da semana, mas ainda não assina a newsletter? É só se cadastrar aqui. Também dá pra ler as edições antigas <3 E se quiser me acompanhar: @babibomangelo